Ao longo da minha vida tenho tido poucos amigos. Sou sociável, mas preciso de algum tempo para me abrir com as pessoas. De há uns anos para cá, a situação tem piorado e, quando me aproximo de alguém, tendo a ser possessiva e a querer que essa pessoa se dê melhor comigo do que com os outros. Quero mudar, mas não sei como.
F.
As pessoas que fazem amigos com facilidade dar-lhe-ão com certeza algumas recomendações no sentido de ser capaz de sair da sua "concha". De resto, mesmo as pessoas mais tímidas reconhecem que é relativamente fácil conhecer pessoas novas. Desde que estejamos dispostos a sair de casa, a deixar as nossas rotinas, e aceitemos um ou outro convite para participar em eventos em que estarão presentes alguns desconhecidos, existe alguma probabilidade de trocarmos impressões com pessoas que até aí desconhecíamos. Por outro lado, se estivermos atentos ao nosso comportamento não verbal e formos capazes de estabelecer contacto visual e sorrir para as pessoas com quem nos cruzamos diariamente - no ginásio, na faculdade, no trabalho ou até no supermercado - percebemos que os outros respondem na mesma medida. Pelo contrário, quando nos sentimos inseguros e incapazes de interagir com os outros, dificilmente alguém virá na nossa direcção. Claro que é legítimo que qualquer pessoa tenha medo de ser rejeitada. Afinal, as pessoas não são todas iguais e, sobretudo, podem não estar exactamente nos seus melhores dias. Importa, por isso, ser perseverante e continuar a olhar à volta.
Mas a verdade é que se é relativamente fácil conhecer pessoas novas, é muito mais difícil manter uma amizade. Existem competências que distinguem as pessoas que se mantêm próximas dos seus amigos ao longo de vários anos. Por exemplo, uma das questões que levanta, o sentimento de posse em relação às pessoas de quem gosta, é congruente com as suas feridas emocionais, com o medo de ser, de algum modo, pouco importante para aquela pessoa, mas pode prejudicar seriamente uma relação afectiva. As pessoas que gostarem de si e a aceitarem como é serão capazes de estabelecer vínculos com outras pessoas, sem que isso implique que a deixem para segundo plano. Tal como um pai é capaz de mostrar a cada um dos seus filhos quão importantes eles são, também cada pessoa deve ser capaz de mostrar aos seus amigos que eles são (cada um à sua maneira) especiais.
Por outro lado, para que seja capaz de estabelecer relações de amizade sinceras, deve começar por aceitar-se tal como é, assumindo as suas qualidades, mas também as suas fragilidades. Afinal, não há pessoas perfeitas e os amigos também se desiludem entre si. A capacidade de conviver com os defeitos daqueles de quem gostamos e de lhes perdoar algumas falhas é, de resto, imprescindível à manutenção de qualquer amizade. Sermos amigos de alguém é desejarmos o melhor para aquela pessoa, é esforçarmo-nos por dar sem estar à espera de receber, é apoiar sempre que aquela pessoa precisa de nós, mas é também sermos capazes de celebrar as suas vitórias, sem que nos sintamos inferiorizados.