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DISCUSSÕES CONJUGAIS FREQUENTES

O meu marido tem por hábito sair sem me dizer a que horas volta, se vem almoçar ou jantar, etc. Raramente respeita as horas das refeições, mesmo estando em casa. Tenho sempre de ficar à espera dele, mas ele não gosta que o façam esperar. Muitas vezes é rude e grosseiro nas palavras que utiliza, principalmente quando discordo de algumas atitudes, como as descritas, ou tento consciencializa-lo de que não custa nada deixar um bilhete, enviar um SMS, qualquer coisa que me possibilite gerir o meu tempo e as minhas tarefas. Estamos casados há quase cinco anos e por motivos laborais estamos juntos a meio da semana e no final de semana. Estou sempre a dizer-lhe que deveríamos rentabilizar melhor o nosso tempo que é tão escasso, mas ele tem sempre inúmeras coisas para fazer e os finais de semana acabam por perder-se. Aliás, nunca posso fazer planos para nada pois tudo tem de ser em função dele. Por mais que tente conversar com ele e expôr tudo isto, ele não aceita e acabamos sempre por discutir. Estou cansada do "não te devo satisfações", "para a próxima deixo-te mesmo à espera", "és chata", "tu só queres implicar e só estás bem a discutir". Por vezes, se a conversa não lhe agrada, desliga o telefone, vira costas ou, mais infantil ainda, começa a cantarolar enquanto eu falo! Parece-me muita má criação, falta de respeito e consideração... Mas às vezes dou comigo a pensar que talvez eu seja demasiado exigente... Mas não me parece. Qualquer pessoa gosta de saber a quantas anda e com o meu marido as decisões saõ sempre em cima da hora. Ainda assim, não me diz nada. Eu que adivinhe!!! Depois de uma discussão acesa que poderia ser evitada se ele tentasse ouvir, sai de casa e fica horas sem dar noticias. Entra mudo e sai calado durante dias. Na verdade, já estou farta de tentar remediar a situação, relevando algumas atitudes. Sei que ele sempre teve estes comportamentos com a mãe e que a noção de casamento ou família nunca a teve pois o pai maltratou a mãe, a ele e às irmãs durante muito tempo. Depois da separação ele ficou a viver só com a mãe e tornou-se o "homem da casa". Contudo, durante os anos de namoro foi sempre muito atencioso e gentil. Após o casamento o comportamento tem vindo a alterar-se. É super amoroso e carinhoso, mas nunca posso fazer um reparo. Não sei como dar a volta a esta situação, pois dialogar com ele está a ser tarefa árdua.

S.



Compreendo a aflição por que passa quando o seu marido escolhe sair ou chegar a casa sem lhe dar quaisquer satisfações e presumo que se sinta muitas vezes desvalorizada, ignorada e até humilhada por ter de esperar pela pessoa de quem gosta sem fazer a mínima ideia da altura em que chegará. Mas compete-me chamar a sua atenção para a forma como pode estar a tentar comunicar a sua insatisfação. De resto, eu sei que a generalidade das mulheres consegue falar abertamente sobre aquilo que as insatisfaz, mas isso pode querer dizer alguns ataques pessoais ao cônjuge, mais do que queixas que permitam a reaproximação. Repare que apesar de ter sido muito clara em relação aos comportamentos do seu marido não especificou a forma como se sente, limitando-se a acusá-lo do que ele não faz. Ora, como refere e bem, o seu marido ter-se-á habituado a comportar-se desta maneira com a própria mãe, pelo que é legítimo que continue a fazê-lo, sem que isso implique que saiba a dor que lhe provoca. Creio que o seu marido não estará a agir por maldade, mas sim porque desconhece o seu sofrimento. Dir-me-á que tem tentado transmitir-lhe esse sofrimento, mas provavelmente estará a transmitir-lhe sobretudo a sua revolta, que também é legítima, mas que o distrai do essencial. Quando o seu marido volta as costas a uma discussão, desliga o telefone ou começa a cantarolar, não está senão a tentar acabar com o momento de tensão. Claro que estes comportamentos podem ser rotulados de desajustados, na medida em que fomentam a sua revolta, mas, como estou de fora, consigo perceber que se trata sobretudo de uma tentativa (disfuncional) de lhe pedir que não o ataque mais.



Procure centrar-se num comportamento de cada vez e não faça generalizações. Diga-lhe algo como "Quando tu (...) eu sinto-me (...); preferia que tu (...)", dando-lhe a oportunidade de perceber claramente como se sente e ilustrando a alternativa que facilmente contribuiria para que se sinta mais segura.