Carta original:
Ando desde há algum tempo à procura de ajuda, por vezes penso que exagero (já cheguei a "consultar" tarot, mas que não foi nada positivo para o meu problema e que por isso ainda aumentou a minha preocupação). Estou casada há cerca de 11 anos e deste casamento temos dois filhos. Durante o namoro saímos muito, ele estava sempre a oferecer-me presentes, parecia não querer separar-se de mim. Com o casamento a situação alterou-se. Passou a sair sozinho com os amigos (em média 2 vezes por mês entre aniversários e festas.). No início ainda lhe pedia para ir com ele e ele justificava o facto de não o acompanhar dizendo que eram só colegas e que eu não me iria sentir bem. Isto aconteceu algumas vezes até que a dada altura me cansei de me chatear com isso. No entanto, nunca perdia a oportunidade, em altura de discussões, de lhe "atirar" isto à cara, dizendo-lhe que só saía com os amigos e com a esposa nunca se dava ao trabalho de sair. Nunca mais fomos a uma discoteca ou ao cinema juntos. Com o nascimento dos filhos a minha atenção virou-se mais para eles, até porque o meu marido sempre foi um pai ausente, por motivos profissionais, e quando podia estar com eles arranjava sempre algo para fazer (chegou a confessar que por vezes vinha mais tarde para casa - quando já estava tudo a dormir - para não se chatear). Em público nunca foi pessoa de muitos afectos (salvo durante o namoro), mas em casa a situação alterava-se. Confesso que no início, e como eu não estava habituada, o reprimi um bocado, o que originou um certo afastamento. No início do casamento os problemas surgiram mas devido à proximidade dos pais dele. A minha sogra sempre se meteu muito na nossa vida, mais comigo do que com o filho, pois ele não lhe dava muita importância. Ela queria assegurar-se de que o filho não sairia das asas dela. Alguns anos após o casamento consegui convencê-lo a comprarmos casa. Felizmente para mim, o meu marido sempre separou muito bem as "águas" mostrando à mãe que eu sou mulher dele e mãe dos seus netos e que por isso "mando" mais do que ela. Estas divergências acabaram também por influenciar os primeiros anos de casamento e não são raras as discussões que não acabem a falarmos das nossas famílias, o que acaba por magoar-nos. O casamento foi-se mantendo com algumas crises ultrapassadas com maior ou menor dificuldade. O maior problema surgiu quando eu tive a possibilidade de ingressar numa carreira que me dava mais motivação, mais dinheiro, mais realização profissional. No início foi mais fácil pois fiquei por casa. Passados cerca de 3 anos tive que me deslocar (por causa deste trabalho) para mais de 300 Kms de casa, na perspectiva de que após 3 ou 4 anos regressasse a casa. Durante estes primeiros anos falámos da possibilidade de ele ir comigo, situação a que não se opôs. Também não lhe ocultei o facto de querer levar os filhos comigo. Os problemas começaram a agudizar-se logo 1 mês depois de começar a ausentar-me durante a semana (aos fins-de-semana sempre fui a casa, quando os nossos filhos estavam doentes era eu quem os levava ao médico, era eu que falava com a professora - apesar de distante fisicamente sempre estive muito próxima deles). Ele disse que não sabia se iria aguentar a situação, pois iríamos perder muito como casal, que tinha medo de não me conseguir perdoar por lhe ter desfeito um sonho e pensando no dia em que os filhos iriam comigo seria muito pior. Realmente, ele chamou-me a atenção para o que está a suceder agora. Durante o ano passado as nossas conversas acabavam quase sempre em discussão, no entanto, a nossa intimidade sempre esteve salvaguardada. Confesso que não é nada fácil lidar com esta situação, pois os ciúmes acabam por ser muito maiores, e quando nos vêm dizer que o nosso marido anda envolvido com outra, apesar de nunca terem visto nada (pois apenas tomavam café, fumavam juntos e iam às festas de trabalho juntos), o certo é que me fez vacilar. Confrontei-o com esta situação e ele sempre me negou este envolvimento, mas o certo é que depois da ida dos nossos filhos para junto de mim ele tornou-se mais distante. Já há muito não o ouço dizer que me ama, que ainda gosta de mim, e esta incerteza tem-me minado por dentro. Há cerca de 2/3 meses começámos a dialogar normalmente. Ele diz-me que sabe que está a fazer-me sofrer, que inconscientemente me culpa pela distância, mas que conscientemente sabe que eu fiz a melhor opção e me irá apoiar sempre nesta minha decisão de mudar de vida. Inicialmente ainda se colocou a hipótese de ele deslocar-se também para onde estou a trabalhar, mas depressa abandonou essa hipótese e neste momento, não quer falar sobre esta situação. Tenho lido e falado com algumas pessoas que me tentaram ver a situação pelos dois pontos de vista. Sempre lhe disse que compreendia e aceitava o que ele estava a passar, mas que estava já a chegar ao meu limite, pois quando fala comigo é sempre com "sete pedras na mão". Já há muito que não tem um carinho para comigo, apesar de demonstrar preocupação. O problema, penso eu, é que não se consegue abstrair da ausência dos filhos, e ao fim-de-semana "vive" para os filhos e não quer saber de mim. Diz-me que eu também mudei, pois estou muito mais exigente na forma como nós estamos do que anteriormente. Já lhe justifiquei que mudei, mudei sim, pois as saudades durante a semana são tantas que ao fim-de-semana tento conjugar todas as forças para investir na relação e na família. Há um tempo atrás pediu-me mais espaço, pois eu queria sempre a sua atenção, não o deixando estar sozinho com os filhos. Entendi a situação e agora estou a dar-lhe mais espaço. Tudo isto para enquadrar o problema. Agora fala em separação. Diz-me que não sabe se consegue ultrapassar esta fase, que está a ser muito difícil para ele, que sabe que me magoa, mas não consegue agir de outro modo e que se soubesse que seríamos todos muito mais felizes separados não tinha dúvidas nenhumas. Não o consigo fazer abrir-se para mim. Já o questionei se ainda gostava de mim o suficiente para tentar recuperar o que ainda pode ser recuperado e ele responde-me que não sabe se será já tarde de mais. Já ponderei a hipótese de os nossos filhos regressarem para junto do meu marido, pois eu aguentei muito melhor a separação do que ele, mas ele diz-me que neste momento não tem tempo para eles (pois a sua vida profissional não lhe permite). O discurso dele, por vezes, é contraditório. Já tentei que ele aceitasse a ida a uma consulta de terapia conjugal, mas ele recusa-se. Neste momento, estou a tentar dar-lhe espaço mas por vezes sinto-me colocada de lado, pois acho que os filhos têm todo o direito de estar com os dois pais ao mesmo tempo. Ele muito dificilmente se abre comigo (é o problema de os homens falarem dos seus próprios sentimentos?!...). Tenho-lhe dito constantemente que o amo, que quero lutar pelo casamento, pois acho que ainda há muito que fazer, mas não consigo obter nenhuma resposta da parte dele. Eu sei que ele está magoado comigo e com o mundo, que ainda não aceitou a nossa separação física, a separação dos filhos, que a cabeça dele também ainda não encontrou qualquer resposta. Sei que ele está muito confuso. Gostaria de o ajudar, já tentámos conversar para encontrar alguma solução mas nunca conseguimos. Já não sei o que fazer. O que posso fazer para o ajudar a superar esta situação e ajudá-lo a descobrir o que quer para a sua vida, para a vida dos filhos e para a nossa vida?
Catarina