PÁGINA INICIAL     |     AMOR     |     ANSIEDADE      |     CIÚME     |     DOENÇA E MORTE     |     FAMÍLIA     |     FOBIAS     |     INFIDELIDADE     
VIOLÊNCIA     |     DIVÓRCIO     |     EDUCAÇÃO DOS FILHOS     |     ÁLCOOL E DROGAS     |     COMPORTAMENTO ALIMENTAR     |     DEPRESSÃO

RECONSTRUIR O CASAMENTO

Tenho 26 anos, sou casado e tenho uma filha de 6 anos. Nunca tratei mal nem traí a minha mulher. Tínhamos as discussões normais de um casal, mas curiosamente nos últimos anos até estávamos a aprender a não discutir tanto... Há cerca de 4 meses, a minha mulher disse-me que deixou de me amar, e que me vê agora apenas como um amigo. Ela nunca me foi mostrando nada disso, e tive até várias provas de que ela pensava no nosso futuro a dois e não em contrário... Ela disse-me que quando se começou a aperceber, não me quis mostrar nada, pensava que o problema era só dela, e que o queria resolver sozinha... agora vê que se me tivesse contado ou mostrado, tudo poderia ser diferente. O problema foi a forma como me contou... sem qualquer pista, simplesmente anunciou-me isso de um dia para o outro, e deixou de querer estar comigo! A minha reacção foi péssima, porque não estava à espera disto... só conseguia chorar! Antes de me contar, ela começou a trabalhar cerca de 12h/dia, e trazia trabalho para casa... Passou a viver no espaço de dois meses num estado de stress permanente (como ainda hoje)! Penso que terá sido esse o principal motivo que a levou a tomar essa iniciativa, porque se afastou de mim, guardando apenas espaço para a nossa filha. Eu sempre fui colaborando em casa com tudo, e inclusivamente ajudei-a nos trabalhos que trazia para casa. Estou desde Janeiro fora de casa. Estou a viver sozinho, e não consigo suportar que não havendo mais ninguém na vida dela, que ela simplesmente não queira tentar mais nada comigo. Diz que não quer conhecer mais o amor, e está sempre a falar comigo por causa disto ou daquilo que tenho que lá ir buscar a casa, para dividir as nossas coisas. Queria muito que ela tentasse! Tenho noção que não pode ser de um dia para o outro, e estou disposto a esperar o tempo que for necessário. Mas ela já fala em divórcio, que não dá mais, que já tentou por ela e não resultou! Toda a minha vida estive com ela (namorámos desde os 16 anos) e penso que o facto de termos uma filha desde muito cedo nos obrigou a crescer de um modo depressa demais. Talvez ela não tenha gerido os seus sentimentos com a maturidade correcta. Simplesmente, não consigo viver sem ela... e sinto-me desesperado! O que mais me magoa é eu não poder fazer nada... e o que posso fazer poderá ser sair com ela de vez em quando, passear, jantar fora... Mas ela diz que não quer porque acha que não vale a pena! Sofro muito por ver a minha família separada! Quero fazer algo, quero convencê-la a "querer voltar a gostar de mim", mas sei que neste momento não me sinto suficientemente racional para o fazer... E o tempo está a fazer com que quando estamos juntos, ela vê um homem triste e não aquele que era capaz de mudar tudo para que ela fosse feliz... Sei que à partida na minha situação se aconselha a partir para outra, mas eu sinto que é possível lutar pela minha família! Só me falta convencê-la que se ela estiver de espírito aberto, que com o tempo é possível voltar a gostar de mim... Com que profissionais poderei obter ajuda? Há algum clínico a quem nos possamos dirigir e dizer "Somos casados, temos uma filha, planos comuns... quero saber como voltar a amar o meu marido" ? Sinto-me num estado depressivo quando estou sozinho... choro, grito...penso demasiado no passado, nos momentos bons, no que poderia ter feito melhor para encontrar o motivo para que ela se sinta assim! Somos novos demais para que a nossa vida em conjunto acabe assim... a nossa filha, apesar dos 6 anos, tem reagido minimamente bem à situação com a mãe, mas quando está comigo cobra-me por eu não fazer nada para que tudo volte "ao normal"... O que posso fazer?


P.


A insatisfação conjugal pode ser "mascarada" de múltiplas formas. Por exemplo, o facto de algumas pessoas serem pouco assertivas, isto é, de não terem a capacidade para expor os seus pensamentos e sentimentos de forma clara e honesta, pode levá-las a um esforço quase sobre-humano para manter a aparente normalidade - mantêm os carinhos, a sexualidade e até os projectos a dois. Mas isso não quer dizer que a comunicação seja fluída, nem tão pouco que os membros do casal estejam a entregar-se por completo à relação.

Aliás, na maior parte dos casos, e apesar da falta de assertividade, os sinais de insatisfação acabam por estar presentes, só que o cônjuge não os percepciona.

Se essa passividade se acumular, a própria pessoa tenderá a sentir-se progressivamente frustrada, isolada, acabando por desistir de lutar por aquilo que quer. Na prática, é preciso que surja um abanão - como o stress resultante do trabalho - para que a frustração e os outros sentimentos mais negativos sejam exteriorizados. Só que acabam por sair sob a forma de uma explosão, impedindo o cônjuge de fazer o que quer que seja.

Caso seja viável voltar a investir na relação, é importante reaprender a comunicar eficazmente, para que cada um exponha com clareza e honestidade os seus sentimentos, sem constrangimentos.

Nenhum terapeuta conjugal pode fazer com que uma pessoa se apaixone (ou reapaixone) por outra. Pode, isso sim, ajudar os membros do casal que querem reconstruir a sua relação a implementar as mudanças necessárias para que se sintam felizes. E, caso não seja possível restaurar a relação, pode ajudar cada uma das pessoas a lidar com as emoções resultantes da separação e a manter a qualidade do papel parental.