PÁGINA INICIAL     |     AMOR     |     ANSIEDADE      |     CIÚME     |     DOENÇA E MORTE     |     FAMÍLIA     |     FOBIAS     |     INFIDELIDADE     
VIOLÊNCIA     |     DIVÓRCIO     |     EDUCAÇÃO DOS FILHOS     |     ÁLCOOL E DROGAS     |     COMPORTAMENTO ALIMENTAR     |     DEPRESSÃO

CONFIAR DEPOIS DE UMA TRAIÇÃO

Eu sou casada há 16 anos, tenho um filho de 12 e o meu marido traiu-me. Descobri há 5 meses, ele já andava um pouco estranho sempre com o telemóvel na mão, até que descobri umas mensagens, fiquei arrasada, pediu-me para ficar com ele, pois ela era casada e eles nunca iam ficar juntos. Portanto se ficasse comigo nunca mais a ia ver nem ter nenhum tipo de contacto com ela. A única coisa que me pedia era para não falar mais no assunto e esquecer quem ela é, porque eu não consegui descobrir quem é e por mais que lhe pergunte ele nunca me vai dizer, só se for quando já formos velhinhos. Depois de impor as minhas condições, aceitei e resolvemos dar mais uma oportunidade ao nosso amor, por nós e pelo nosso filho que é o nosso orgulho e merece todos os sacrifícios da nossa parte, para crescer em paz e ser feliz, porque, como ele já nos disse várias vezes, não gostava de ser filho de pais separados. Até aqui tudo bem, foi uma grande dor, mas a pouco e pouco vou tentando ultrapassar, ele mudou totalmente de atitudes comigo, ajuda-me em tudo e trata-me como nunca me tratou, é super querido e está sempre a fazer planos para o nosso futuro, sempre juntos e chateia-se quando eu lhe digo que a coisa pode dar para o torto. Mais tarde descobri que ele tinha umas chamadas superiores a 30 minutos no telemóvel para duas mulheres casadas da nossa convivência e fazia várias chamadas para elas por semana sempre com tempos elevados. Perguntei-lhe ser era alguma delas ou as duas a "tal", diz que não e que elas só lhe dão um toque para ele lhes ligar quando não estão bem com os maridos e precisam desabafar- Será que precisam de desabafar tanta vez por semana e ainda por cima temos que ser nós a pagar os telefonemas? Fiz-lhe ver que era uma situação constrangedora, afinal falar uma vez de vez em quando era uma coisa, mas assim consecutivamente devia trazer água no bico, porque ainda por cima os maridos delas não podem sonhar que elas lhe telefonam, mas eu devia achar a situação normal. Como não aceitei, os telefonemas grandes pararam, só há alguns de vez em quando mas são pequenos, alguns até são na minha presença e não ouvi nada de especial. Nunca pensei que me aparecessem estes obstáculos, achava que perdoava, continuava com alguma dor e desconfianças, mas que as mentiras iam parar, mas tenho dúvidas. É que ele passa o dia fora de casa, à noite chega sempre cedo, mas às vezes ao telefone dá-me a sensação que ele está diferente e não é mesma pessoa. Será que é quando está com ela (às vezes tenho dúvidas se realmente eles não se deixaram, só andam mais discretos, será que nunca mais vou deixar de duvidar?). A minha confusão ainda é grande, apesar de ele não me dar grandes motivos para desconfianças. Às vezes ainda lhe apanho uma ou outra mentira sem importância. Será que atrás destas sem importância virão outras mais importantes? Eu só queria ajuda para tentar ser feliz. Afinal, ele garante-me que nunca mais me traiu, nem sequer a viu nem telefonou, mas se eu não acredito, prefere ir-se embora porque não quer viver em brigas toda a vida e acha que já pediu perdão pelo que fez e se eu perdoei, não devo andar toda a vida a cobrar o mesmo. Acho que me sinto feliz, mas de vez em quando tenho recaídas e não sei o que fazer. Será que devo confiar mesmo? Por outro lado, tenho medo de confiar demais e me dar mal, só de pensar que ele está tão bem comigo e pode logo a seguir ir para os braços da outra, dá-me arrepios e não quero acreditar que seja possível, afinal eu quero mesmo confiar.

M.

A infidelidade é, invariavelmente, um ponto de viragem na vida de um casal. Para alguns, implica a ruptura, a impossibilidade de reconstruir a relação. Mas para outros, a revelação da traição acaba por constituir uma oportunidade para construir algo melhor do que existia. Se a infidelidade é um sinal de que algo não estava bem antes, então, acaba por ser também um alarme que permite que os membros do casal olhem mais profundamente para as lacunas da sua relação.

Claro que este não é um processo fácil, nem tão pouco imune a recaídas. Reconstruir a confiança é, na verdade, um processo árduo, moroso e que envolve o estabelecimento de acordos. Cada um dos membros do casal deve desenvolver a capacidade de expor aquilo que sente, de forma clara e honesta, sem ferir o outro. Dessa capacidade pode resultar o discernimento necessário para que ambos ajuízem sobre o que é certo e o que é errado, ou seja, sobre os limites a partir dos quais poderão estar a colocar em risco a relação.

Manter um casamento implica a aquisição de competências importantes, como a confiança e esta, às vezes, só é restaurada através da intervenção terapêutica.

Conversar com o seu marido sobre o que aconteceu e sobre o que sente pode ser constrangedor, mas é a única forma de dar voz às suas angústias. Ouvi-lo, estar atenta à manifestação das suas necessidades e às lacunas que ele próprio identifica na relação também é importante e difícil. Procurem evitar os ataques pessoais, centrando-se na manifestação de sentimentos.