PÁGINA INICIAL     |     AMOR     |     ANSIEDADE      |     CIÚME     |     DOENÇA E MORTE     |     FAMÍLIA     |     FOBIAS     |     INFIDELIDADE     
VIOLÊNCIA     |     DIVÓRCIO     |     EDUCAÇÃO DOS FILHOS     |     ÁLCOOL E DROGAS     |     COMPORTAMENTO ALIMENTAR     |     DEPRESSÃO

ESCONDER A DEPRESSÃO

Tenho 19 anos e desde que entrei para a faculdade que estou com depressão (coisa que jamais imaginaria possivel acontecer comigo, por me conseguir ter tornado na rapariga que era até então: extrovertida, confiante, com projectos de vida e ambições planeadas). Hoje não me reconheço. Sinto-me fraca, não de uma forma física, mas "interiormente", como se me tivessem "roubado" a alma. O meu desempenho académico não tem sido dos melhores. Neste momento deveria prosseguir para o 2.º ano curricular mas ainda me vejo retida a completar as cadeiras semestrais que deixei por fazer. A minha auto-estima está em baixo, já tentei procurar apoio psicológico mas não sei a quem recorrer, por não ter a certeza se o devo fazer e também por ter medo de não ser levada a sério. Em casa acho que ninguém tem noção desta minha "situação". Não sei se eles (pais, irmão, irmãs) sabem e preferem não falar sobre isso, ou se simplesmente me ignoram e preferem não ver o que realmente se está a passar comigo??!! Ou talvez a culpa seja minha, por não demonstrar à frente de todos o quão deprimida estou, limitando-me a fazer e parecer ser a rapariga divertida e alegre que era antes. Sinceramente, não tenho com quem desabafar e por isso carrego este fardo sozinha, isolo-me em casa, arranjo desculpas para não ir às aulas, tranco-me no meu quarto e lá embebedo-me todas as noites para aliviar a minha solidão. Não sei mais o que fazer, pensava que por esta altura tudo isto já teria terminado, mas pelos vistos não foi bem assim... Já tive pensamentos suicidas todas as manhãs ao acordar, mas por outro lado nunca ponderei em vir mesmo a fazê-lo. Ainda me restam algumas "forças", ainda que poucas, para não ir mais além do que os simples pensamentos negativos como esses... Diga-me o que fazer ou apenas o que pensa de tudo isto?
C.

Apesar de os transtornos depressivos afectarem uma larga fatia da população, continua a vigorar alguma falta de informação acerca deste tipo de perturbações, o que acaba tantas vezes por comprometer os pedidos de ajuda. Não posso, como compreenderá, fazer qualquer diagnóstico por esta via, mas compete-me deixar-lhe algumas sugestões. Em primeiro lugar, e tal como acontece em relação à saúde física, é importante interiorizar que nós somos os primeiros cuidadores de nós mesmos. Compete a cada pessoa olhar para os sinais e sintomas que o corpo vai emitindo e, em função da sua intensidade, prolongamento e/ou injustificação, ser capaz de pedir ajuda especializada. Repare: se for subitamente acometida por uma intensa dor de cabeça, mesmo que desconheça a sua origem, dificilmente procurará ajuda médica, limitando-se a tomar um analgésico; mas se essa dor se prolongar e/ou se se intensificar, sem que haja uma causa conhecida, o mais prudente será consultar um médico e realizar alguns exames. Esta metáfora é aplicável à nossa saúde emocional - sendo absolutamente natural que cada pessoa atravesse períodos de maior cansaço, tristeza ou abatimento (nem sempre explicáveis), não será necessário pedir imediatamente ajuda a um psicólogo. Mas se, entretanto, estes sinais/ sintomas persistirem, comprometendo o bem-estar geral ou até a realização das tarefas quotidianas, é importante dar-lhes o devido valor.

Estar deprimido não tem nada a ver com a força interior de cada pessoa, pelo que não é saudável que escondamos a tristeza ou a ansiedade das pessoas que gostam de nós. Este retraimento acaba quase sempre por contribuir para a agudização do estado depressivo e para a sensação de desamparo.

Comece por falar de forma clara e honesta sobre as suas emoções. Mesmo que não o faça com todas as pessoas, já será significativo se se sentir amparada por pessoas em quem confia e que gostam de si. Depois, aborde também esta questão junto do seu médico de família - pode parecer-lhe constrangedor, mas este é o primeiro passo para que possa sentir-se verdadeiramente compreendida e, eventualmente, possa ser acompanhada numa consulta de especialidade. Se preferir, pode recorrer directamente à ajuda de um psicólogo, que a ajudará a perceber e gerir melhor as suas dificuldades. O importante é que não se acomode a um estado de tristeza, nem se isole.