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DESCARREGAR NA PESSOA ERRADA

Recorro a si na esperança de que me consiga ajudar. Estive num relacionamento de 3 anos e 2 meses e que acabou há uma semana. Até há algum tempo tudo andava bem - chamavam-nos o casal maravilha e sinceramente acho que o éramos... Estávamos sempre juntos, o amor existente irradiava... No entanto, fui operado e tive que ficar em casa de baixa durante mês e meio. Sou uma pessoa activa e fiquei muito frustrado e a minha namorada levava com muita dessa frustração. Depois de tudo voltar ao normal ela pediu-me um tempo. Dizia que eu não estava o mesmo, que estava muito diferente e que a magoava. Passaram 2 dias e ela quis terminar esse tempo. Conversámos e nos 2 meses seguintes tudo andou relativamente bem, porém, de lá para cá as coisas foram mudando até que ela terminou tudo. Eu amo-a mais que tudo, consigo jurar a pés juntos que ela é a mulher da minha vida, não paro de pensar nela. Mantemos o contacto mas não sei até que ponto poderá ser prejudicial porque eu quero falar com ela, dar-lhe espaço, mas não consigo e volto a bater na mesma tecla e pressiono...
V.

Em primeiro lugar, parece-me importante desmistificar algumas crenças irracionais. Consigo perceber que se sentisse muito feliz e satisfeito na sua relação até há algum tempo, mas isso não deve ser confundido com qualquer idealização. Conheço muitos casais que são vistos como exemplo ou como modelos de perfeição, precisamente porque irradiam harmonia e bem-estar, sem que isso corresponda a elevados níveis de satisfação das pessoas em causa. Não me interprete mal porque não duvido de que o leitor tenha sido feliz ao lado da sua namorada. Coloco, isso sim, algumas questões no que diz respeito ao conhecimento que detém sobre as necessidades específicas da pessoa que esteve ao seu lado.

O aparecimento de uma doença súbita ou a baixa médica na sequência de uma cirurgia constituem acidentes de percurso que podem abanar a estabilidade de um casal. A verdade é que, como referiu, sentia-se muito abatido e frustrado com o facto de estar condicionado e, por isso, terá descarregado na pessoa que estava ao seu lado. Competiria à sua namorada empatizar com a sua fragilidade sem que isso implicasse, no entanto, a anulação das próprias necessidades ou a acumulação de tensão. É possível que a sua namorada não tenha sido capaz de exteriorizar no tempo certo aquilo que sentiu e isso implica que possa ter acumulado mágoas, distorcendo a percepção que construíra de si. Para que nos sintamos seguros ao lado da pessoa que amamos, precisamos de confiar na capacidade dessa pessoa para nos amparar, para nos secar as lágrimas e, pelo que percebo, essa confiança ter-se-á quebrado.

Sem querer, o leitor pode ter magoado a sua namorada e, ainda que hoje queira emendar a situação, não creio que seja positivo pressioná-la. Ao fazê-lo, estará a alimentar um ciclo vicioso, permitindo que a pessoa de quem gosta se sinta profundamente desrespeitada. Procure ouvi-la acerca das suas necessidades e tente respeitar a sua vontade. Compreendo que se sinta muito angustiado e acho que faz muito bem em mostrar o seu amor, mas é crucial que os seus impulsos não o levem a fazer precisamente aquilo que mais o prejudicará - desrespeitar a vontade da pessoa que tanto estima.

O tempo não cura tudo e poderá até contribuir para que a sua namorada escolha afastar-se definitivamente de si, mas é essencial que demonstre que os seus sentimentos são suficientemente sólidos e sinceros a ponto de permitir o afastamento de que a sua namorada hoje precisa.