Estive casada durante dois anos, tenho dois filhos e divorciei-me recentemente por minha livre vontade. Sempre achei que não amava o meu marido e rejeitei-o, principalmente na intimidade. Ele amou-me, protegeu-me, deu-me tudo, embora reagisse com bastante agressividade à minha frieza. Ele não queria o divórcio e tudo fez para que eu mudasse de ideias. Agora que estamos divorciados apenas há dois meses e ele tem outra mulher, sofro imenso de ciúmes. Além disso, penso no mal que fiz aos meus filhos, sinto um medo terrível da luta que vou ter que travar sozinha com dois filhos. Mas o mais incrível é que ainda há uns dias cheguei a dizer-lhe que tinha ciúmes da relação dele com esta mulher e que queria dar-nos uma nova oportunidade. Ele ficou todo derretido, queria anular o divórcio e contar a toda a gente, mas imediatamente eu senti dúvidas. Depois ele mostrou-se muito romântico comigo e, mais uma vez, eu fui fria com ele até ele perceber que eu não estava tão empenhada como ele e desistir. Acho que sempre gostei dele em muitos aspectos. Gosto da companhia dele, de falar com ele, de me sentir protegida e amada, mas o problema, penso eu, reside na falta de química. Quando tenho que o beijar na boca ou fazer amor com ele, é sempre um problema para mim. E sei que se voltássemos a estar juntos o problema continuaria. Eu já casei com ele a sentir isto e esse foi o meu erro. Tive uma paixão muito forte por outro homem no passado e havia muita química entre nós. Estou a sofrer bastante com esta separação, sinto-me ridícula por não saber exactamente o que quero, sinto-me culpada pelo sofrimento que causei a este homem e aos meus filhos. Não sei se vou conseguir ter uma nova relação. O que se está a passar comigo? Acho que sou extremamente complicada e que estou a destruir a minha própria felicidade. Sou a minha maior inimiga. Não consigo perceber por que sou uma pessoa tão frágil, insegura, indecisa e complicada. Sinto que preciso de alguma ajuda. Evito falar do que estou a sentir aos meus amigos e familiares porque acho que vão achar que sou doida e cansar-se de me ouvir.
C.
Em primeiro lugar, é importante que retenha a informação de que não tem por que sentir-se culpada ou envergonhada por estar a sentir tantas dúvidas. Tanto quanto posso perceber, deu o seu melhor no sentido de tentar que o seu casamento desse certo, mas as suas tentativas esbarraram sistematicamente no facto de não se sentir atraída pelo seu marido. Tê-lo-á como um homem nobre e carinhoso e imagino que sinta um imenso carinho por ele, mas isso não basta para que nos sintamos satisfeitos numa relação amorosa. Não posso ignorar o desapontamento que o seu marido sentiu, quer aquando do divórcio, quer mais recentemente quando vislumbrou a possibilidade de reatamento, mas isso não quer dizer que a leitora seja responsável pela infelicidade do seu marido. Creio que teria muito mais motivos para se sentir desiludida consigo mesma se ignorasse aquilo que sente e tentasse fingir que o ama. Isso sim implicaria algum desrespeito pelo seu marido e pelos vossos filhos.
Terminar uma relação nunca é um desafio fácil e, mesmo que já não haja amor romântico, o fim de um casamento não deixa de ser uma perda emocionalmente muito impactante. Há um luto que tem de ser feito e que requer algum tempo, pelo que não deve ser tão severa consigo mesma. Por outro lado, é natural que se sinta receosa em relação ao futuro, que é hoje muito mais incerto. Esse medo protegê-la-á de comportamentos impulsivos e tenderá a dissipar-se à medida que o tempo passar.
Desconheço o seu percurso individual anterior a esta relação, mas presumo que, para além da relação a que se refere, existam outros eventos emocionalmente significativos que a marcaram e que possam estar a condicionar a forma como hoje olha para o amor e para as relações românticas. Talvez precise de olhar para as suas feridas emocionais mais antigas para que possa discernir melhor sobre as decisões que quer tomar.