Tenho 29 anos. Conheço o meu marido há 8 anos, namorámos 5 anos e estamos casados há 3. Sempre tive medo de ser traída por ele, era muito ciumenta e possessiva. Ele tinha de ter olhos só para mim! Há 2 anos conheci num desses sites de redes sociais um homem mais velho 5 anos. Começámos a ficar amigos, falávamos no msn esporadicamente mas tínhamos contudo muita cumplicidade. Há cerca de 2 meses ele declarou-me a atracção que sentia por mim, mas eu nem queria acreditar, pensei que estava a brincar comigo pois ele também é casado. Ele desde sempre me contou que era casado e que já conhecia a mulher há 18 anos, mas que de vez enquando dava as suas escapadelas pois achava que isso era a fórmula para um casamento saudável e feliz. Contudo, disse que nunca iria largar a mulher pois a amava. Queria ter comigo mais do que aquela amizade virtual, queria uma amizade colorida, pois gostava muito de mim, adorava-me, dizia que eu era diferente das outras com quem tinha estado porque com elas nunca teve um envolvimento emocional, era só sexo. Eu era especial. Pensava muito em mim, ao deitar, ao acordar, sentia a minha falta. E todas estas palavras e muitas outras fizeram com que eu começasse a sentir uma grande atracção também por ele. Só o facto de falar isto tudo com ele e de me sentir atraída já fazia com que eu sentisse que estava a trair o meu marido, traição essa que eu sempre abominei e exigi que ele não o fizesse comigo e, afinal de contas, era eu que estava a quebrar as regras. Ele fazia sentir-me bem comigo mesma, fazia-me sentir mais mulher, mais bonita, desejada - coisas que já não sentia há muito tempo, pois de há uns anos para cá que o meu marido deixou de fazer (os homens têm por hábito deixar de conquistar as mulheres desde o momento que as têm como certas). Cedi e encontrei-me com ele pela primeira vez numa noite em que o meu marido trabalhou até mais tarde. Esse encontro durou 2 horas e não passou de mais do que beijos. Passado uma semana encontrei-me novamente com ele num motel mas também não passou de beijos, carícias, etc, etc, etc.. Voltei a marcar com ele na semana seguinte e nessa altura já nos envolvemos mais e o sexo acabou por acontecer, só que na hora H veio à minha cabeça um arrependimento e um sentimento de culpa e não consegui, tive de parar ali pois não estava a sentir prazer algum e sei que não estava a fazê-lo sentir também. Desde esse dia nunca mais nos vimos e sinto que ele está diferente para comigo. Continuamos a falar só que destas vezes noto que ele está mais distante (ele diz que é muito trabalho) - todas aquelas palavras que ele me dizia e que me faziam bem estão cada vez mais escassas. Sinto-me mal com esta situação, eu amo muito o meu marido mas sinto muito a falta do "outro", pois com ele sinto coisas diferentes e gosto da companhia dele, gosto do que ele me faz sentir e do que sou quando estou com ele. Provavelmente para ele não passou daquilo mesmo e evita-me porque falhei. Eu sentia que ele era sincero comigo mas pelos vistos ele queria só mesmo uma aventura e iludiu-me este tempo todo. Afinal eu não era tão especial para ele. Eu só me pergunto o porquê de ele fazer isto com a mulher dele, se ele a ama, porque procura outras mulheres?! Foi ele que andou atrás de mim este tempo todo até eu ceder. Isto é uma vergonha para uma mulher casada como eu, por vezes sinto-me uma qualquer. Preciso de ajuda, não sei o que fazer. Estou muito baralhada. Quero os dois na minha vida, mas sei que isto é errado.
S.
Como tenho dito tantas vezes, a infidelidade é sempre uma escolha de quem a pratica e é, ao mesmo tempo, um comportamento que não dignifica ninguém. Mas será hipócrita pensar-se que quem trai não sofre nunca. De resto, aquilo que creio que a separa do homem com quem se envolveu é precisamente a vergonha e o arrependimento. Tanto quanto pude perceber, a pessoa com quem se envolveu foi muito clara desde o início desta relação, evidenciando o conjunto de escapadelas do seu historial e assumindo que ama a mulher. Permita-me discordar desta assunção, bem como do cliché segundo o qual a infidelidade manteria um casamento saudável. Nada pode estar mais longe da verdade e é possível que esta pessoa esteja a enganar-se a si mesma. Amar alguém implica, antes de mais, respeitar as suas emoções. Se este homem mente deliberadamente à mulher, está apenas centrado no seu bem-estar. Guiar-se-á pelas próprias emoções, ignorando os danos "colaterais".
Nenhum casamento é, obviamente, um mar de rosas, pelo que, mesmo que cada um dos membros do casal dê o seu melhor no sentido de fazer com que o outro se sinta especial, existirão invariavelmente períodos de maior afastamento. É natural que, a determinada altura, nos sintamos tomados como garantidos e compete-nos chamar a atenção do nosso cônjuge para a necessidade de se continuar a alimentar a relação. Compreendo que se não se sentia especialmente valorizada no seu casamento pudesse sentir-se atraída por alguém que, de repente, a cortejou como o seu marido há muito não o faria. Mas repare que seria sempre impossível para o seu marido competir com alguém que está de fora e que, naturalmente, apenas acedia ao melhor de si. É-nos infinitamente mais fácil elogiar e cortejar alguém que ainda estamos a conhecer, principalmente porque do facto de não haver uma vida a dois resulta a inexistência de quaisquer conflitos. Se se colocar na posição do seu marido, perceberá com certeza que ser-lhe-ia relativamente fácil deixar-se envolver por uma mulher que passasse a elogiá-lo diariamente.
Não é fácil confrontar a pessoa de quem se gosta com a necessidade de implementar algumas mudanças para que voltemos a sentir-nos especiais, principalmente porque isso implicará que façamos também alguns esforços no sentido de sairmos da nossa própria zona de conforto, mas esse é o único caminho para que nos sintamos satisfeitos ao lado da pessoa que escolhemos. É absolutamente possível que alguém se sinta dividido entre "dois amores" mas, neste caso, creio que não é de amor que falamos quando falamos do seu envolvimento extraconjugal. Falamos, isso sim, de comportamentos impulsivos em que a leitora ter-se-á deixado dominar pelas emoções. Sempre que agimos sem pensar, dominados apenas pelo desejo que queremos ver satisfeito, corremos mais riscos e este caso não é excepção.
A passagem do tempo permitir-lhe-á perceber que o homem com quem se envolveu não a vê como uma pessoa especial. Nós estimamos e mimamos as pessoas que são especiais para nós e isso vai muito além de uma simples rejeição sexual. Este homem fez aquilo que pôde para a conquistar mas o seu recuo tê-lo-á afastado. Mesmo que tivesse continuado esta relação, seria apenas uma questão de tempo até que fosse trocada pela próxima novidade.
Se ama o seu marido e quer preservar a sua relação, parece-me justo que procure chamar a sua atenção para aquilo de que precisa. Olhe para o seu casamento e não tenha medo de confrontar o seu marido com o que a insatisfaz e com as mudanças que deseja. Só se forem capazes de falar abertamente sobre as mudanças que precisam de implementar é que poderão sentir-se seguros nesta relação. Caso contrário, abrir-se-á espaço ao aparecimento de terceiras pessoas.