PÁGINA INICIAL     |     AMOR     |     ANSIEDADE      |     CIÚME     |     DOENÇA E MORTE     |     FAMÍLIA     |     FOBIAS     |     INFIDELIDADE     
VIOLÊNCIA     |     DIVÓRCIO     |     EDUCAÇÃO DOS FILHOS     |     ÁLCOOL E DROGAS     |     COMPORTAMENTO ALIMENTAR     |     DEPRESSÃO

ENSANDUICHADA

Sou casada pela terceira vez, tenho 3 filhos, sendo um do segundo casamento e os outros dois do terceiro. Com 42 anos voltei à faculdade. Desde que me separei do meu primeiro marido, começaram os conflitos com os meus pais porque eles considerevam-no marido ideal para mim, pois ele era médico e rico e os meus outros dois maridos nao têm escolaridade e são pobres. Trabalhei, antes de entrar na faculdade, com o meu pai durante 7 anos. Ele sempre foi uma pessoa autoritária, que nunca parou para pensar no que fala, humilhava-me à frente de qualquer pessoa, sempre (desde que me separei) me atirou à cara toda a ajuda que me dava. Já tivemos discussões sérias, mas eu sou uma pessoa que não guardo mágoa e sempre o perdoei, estando ele errado ou não. Acontece que desde Junho a minha vida virou-se de cabeça para baixo. Foi diagnosticado à minha mae um tumor altamente maligno no cérebro, tivemos que nos mudar para onde mora o meu irmão e a familia da minha mãe. Larguei tudo: a minha casa, os meus bichos, a minha faculdade, os meus amigos, os meus filhos tiveram que parar de estudar, tudo para cuidar da minha mãe, pois sou a única filha mulher. Como eu e o meu marido não temos condições financeiras e o meu marido teve que largar o emprego para nos acompanhar, tivemos que morar na mesma casa que eles, e também para eu poder cuidar da minha mãe 24 horas por dia. Contratámos uma rapariga para nos ajudar. Agora a minha mãe teve que ser internada, melhorou um pouco e já está em condições de voltar para casa, só que está com sonda para alimentação, soro para medicação, nao se mexe, fica 24 horas por dia na cama, ou seja, precisamos de pessoas especializadas para nos ajudar a cuidar dela em casa, já que no hospital ela corre o risco de apanhar uma infecção, e em casa a vida que lhe sobra terá mais qualidade já que vai poder estar com os netos e os seus animaizinhos. Acontece que o meu pai não quer dispensar essa ajudante para poder contratar uma pessoa especializada, exige que eu aprenda a fazer tudo o que uma enfermeira faz, já que estou aqui para cuidar dela mantida por ele. Eu não consigo, simplesmente não consigo, não tenho estômago para isso, ainda mais tratando-se da minha mãe. Agora sou chamada de vagabunda por ele e por algumas pessoas da família, tudo à frente dos meus filhos, funcionários... O meu marido, que nao tem boca para me defender, ameaça voltar para casa, pois sente-se ofendido por estar a ser ajudado). Estou desesperada, pois além de estar a ver a minha mae definhar aos poucos ainda tenho que aguentar tamanha humilhação! Não tenho amigos aqui, não tenho tempo para mim, não encontro apoio em ninguém! Como posso viver assim? Sinto que a qualquer momento também vou adoecer, e ainda tenho três filhos para criar...
S.



A situação que descreve é extremamente delicada, pois envolve o sofrimento de muita gente. Face a tantas solicitações, é natural que se sinta "ensanduichada": a par das suas responsabilidades como mulher e mãe, tem agora que enfrentar o desafio de acompanhar os seus pais num momento de viragem.

Olhando para a sua descrição, percebo que já atravessou algumas "crises" ao longo da vida, pelo que é também a esses momentos que deve recorrer para recuperar forças. Para chegar até aqui teve que fazer escolhas difíceis e superar muito sofrimento. Nalguns desses momentos pôde contar com a presença do seu marido, pelo que agora é importante que voltem a unir-se.

Este tipo de "crises familiares" geram muitos conflitos e às vezes parece que o mundo inteiro está contra nós. Todos discutem, mas ninguém tem toda a razão. A verdade é que não existe um único membro da sua família que não esteja a sofrer. Cada um à sua maneira, com certeza.

Ainda que lhe pareça difícil, é importante que se esforce por hierarquizar as dificuldades por que está a passar. Parece-me que a doença da sua mãe é, neste momento, a grande prioridade, face ao agravamento que descreve. Assim, e apesar de nem tudo estar ao seu alcance, tenho a certeza de que se sentirá melhor consigo mesma quando, daqui a alguns anos, olhar para trás e perceber que deu o seu melhor. Centre-se nas necessidades da pessoa que está doente e naquilo que poderá fazer para minimizar a sua dor, mais do que nas embirrações do seu pai. Lembre-se de que ele próprio poderá estar apenas a reagir à dor da melhor maneira que sabe.

As escolhas que terá pela frente não serão fáceis, mas ajudá-la-ão a tornar-se numa pessoa ainda mais forte.