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VIDA A DESMORONAR

Estou muito preocupada com a estranha situação que se precipitou no último mês na minha vida. Eu e o meu marido temos vindo a notar uma degradação da nossa relação desde há meses, mas encarámos como uma "fase", suscitada por factores externos ligados às nossas carreiras e desde então temos vindo a tentar resolver os problemas. No entanto, ultimamente notei um afastamento crescente do meu marido, que parecia não mais "parar em casa". Como a sua profissão obriga a muitos compromissos, também sociais, fui atribuindo a isso, até porque ele próprio me confirmava que assim era. Notei em seguida outro comportamento estranho: passou a passear a cadela todas as noites, religiosamente, quando antes simplesmente não o fazia. Os passeios com a cadela começaram por ser de 15 minutos, subriram para meia-hora... Enfim, nos últimos dias já atingiam a hora e meia. Parecia que tudo era desculpa para não estar comigo, em casa. Entretanto, no mês passado tudo se precipitou, e o certo é que neste momento o meu marido saiu de casa, está a viver em casa do irmão. Foi ao psicólogo e ao psiquiatra, sendo que este último lhe diagnosticou uma depressão, com problemas de personalidade associados a introversão. Não sei muito mais sobre as duas consultas do meu marido no psiquiatra, porque os nossos contactos têm vindo a ser mínimos. Literalmente, o meu marido foge de falar comigo, diz que simplesmente não consegue. Eu, por minha parte, tenho um medo muito grande de "desabar", sobretudo porque a nossa filha, de 4 anos, precisa de mim, e a última coisa que quero que aconteça é eu perder-me em "porquês" e angústias, sem conseguir cuidar da nossa filha. Já marquei uma consulta com uma psicóloga, para mim, por sentir que mais vale prevenir do que remediar. Todos à minha volta dizem que, apesar da minha tristeza, sentem-me bastante racional e forte, mas eu tenho tanto medo de desabar... Como poderei melhor ajudar o meu marido e a mim própria e à minha filha? Isto de ver a vida desmoronar dói estupidamente.

L.

São relativamente comuns os casos de dificuldades conjugais em que um ou até os dois membros do casal se apercebem dos "sinais de alarme", mas sente-se impotentes para dar resposta à situação. Mais do que olhar para os detalhes dos factos e para os episódios que levantam suspeitas sobre o comportamento do cônjuge, é importante desenvolver competências referentes à identificação e gestão das emoções. Há milhões de razões que poderão estar na origem do afastamento do seu marido, mas aquilo que verdadeiramente importa é perceber a forma como cada um se sente nesta relação.



O facto de a sua rede de suporte salientar a sua imagem racional pode ser um indício de alguma dificuldade em assumir aquilo que sente. Percebo que a dor possa ser efectivamente insuportável e que, por isso, seja mais fácil gerir o problema do ponto de vista da racionalidade. Mas a contenção das suas emoções envolve um risco demasiado elevado, já que a probabilidade de "desabar" aumenta. Não há por que temer manifestar a sua tristeza ou a sua revolta. Essa exteriorização é saudável e evita o desabamento que tanto teme.

Congratulo-me com o facto de ter recorrido à ajuda especializada e espero que possa recuperar rapidamente a sua estabilidade.

Quanto à ajuda ao seu marido: importa que procure ouvi-lo sem críticas ou juízos de valor. Lembre-se de que o seu marido pode sentir-se confuso e não ser capaz de responder claramente às suas dúvidas. As crises conjugais são também oportunidades para que cada um dos membros do casal possa reflectir sobre aquilo de que precisa para se sentir feliz. Se ainda há amor e vontade de manter esta família, considere a hipótese de recorrer à terapia de casal.