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FAMÍLIA RECONSTRUÍDA

O meu papel neste filme da vida é namorada de pai divorciado, com 2 filhas(4 e 9 anos). Foi uma separação difícil, onde a "ex" de tudo fez para nos separar, inclusive as crianças serviram de armas de arremesso na relação - desde servir-se da mais nova para me enviar recados através do telemóvel e chamar-me de todos os nomes(como pode calcular) a criar regras de proibição à mais velha de me acarinhar, abraçar, e servir-se de ambas para contar tudo o que se passava durante os fins-de-semana que passavam com o pai (uma espécie de questionário telefónico). Importa saber que isto já tem uma duração de quase 2 anos. Entretanto parece que a "ex" arranjou um amigo, também divorciado e pai de uma criança de 7 anos. Ainda não foi comunicado ao pai(ao meu companheiro), porque talvez seja uma relação recente, e as próprias filhas não contam nada, com excepção da mais nova que relatou alguns pormenores à avó paterna. Até há pouco tempo a "ex" de tudo fazia para arranjar esquemas de conversas cujo assunto fosse as filhas, e de repente surge uma dinâmica completamente diferente... Já permite que as filhas fiquem com o pai 1 vez por semana, quando antes era impensavel, já deixa as filhas exprimirem os sentimentos de uma forma mais natural, se bem que toda aquela pressão que sofreram durante todo este tempo ainda as esteja a afectar. A mais nova faz muitas birras quando passa o fim-de-semana connosco, quer a mãe e começa a chorar, afasta-se de mim e agarra-se ao pai. Eu não sou mãe nem posso ter filhos pelo que aquele equilíbrio que normalmente ocorre, não o vou ter, e por vezes torna-se difícil agilizar este tipo de relação com as filhas. Penso muito no que será no futuro, uma espécie de competição entre a namorada do pai (eu) e as filhas, será? O obejctivo do Pai (o meu companheiro) é dar o seu melhor às filhas. Eu não partilho de todo desse mesmo objectivo, trabalho e sou estudante universitária, aspiro outras metas, não invalidando a relação que assumi. Agora deparo-me com uma situação completamente nova, talvez o novo namorado da "ex", uma relação ainda não totalmente assumida. Vai com certeza até para seu interesse querer que o pai fique com as filhas, para poder usufruir da sua nova relação, quando há uns meses ainda dizia que se ela ("ex") não era feliz, também mais ninguém o seria. É certo que foi uma fase muito dura, pois sofri na pele a ira de uma mulher que não aceitou o divórcio, expôs completamente a minha vida privada, profissional e até envolveu familiares chegados. Serviu-se das filhas, como disse, contra o Pai e de tudo fez para criar mal-estar. Hoje as coisas estão a mudar, contudo, ainda hoje a "ex" pede às filhas que não contem o que se passa, incita a filha mais velha a pedir para ficar com o pai nos dias que ela pretende e dá jeito e, quando isso não acontece, chora. E isto começou a passar-se depois da entrada do novo "amigo" na vida da "ex". A minha relação com as filhas do meu companheiro é razoável, há um limite muito ténue entre mim e elas, noto que a mais velha já tem uma abordagem diferente comigo, apesar de as limitações porque se viu obrigada a passar por causa da sua mãe, e a mais nova quer quase sempre o pai e a mãe. Sinto alguma distância, não me procura para acarinhar, mas obedece a uma ordem minha, com ar muito aborrecido, talvez com outra idade me dissesse "não és minha mãe". Quando estão com a mãe nunca perguntam por mim ao pai, quando este lhes liga e já aconteceu eu estar a falar com a mais velha ao telemóvel e a mãe simplesmente desliga o mesmo. Como pode verificar Sr.ª Dr.ª não é fácil lidar com uma pessoa deste nível e com estas atitudes que prejudicam a relação que eu possa querer criar. Também me dou conta dos telefonemas exagerados que a "ex" faz cada vez que as crianças passam o fim-de-semana com o pai, quando deveria haver um telefonema por dia, para que o pai possa criar o seu elo, sem a mãe por perto... Mas isso não acontece, os telefonemas acontecem e as perguntas também. Talvez as coisas possam mudar, talvez agora se transforme numa espécie de jogo, quem vai ser melhor, o namorado da mãe ou a namorada do pai, compreende? Embora exista uma outra criança na relação da mãe, pois o "amigo" tem uma filha. E será que é desta que teremos paz?
C.

As famílias reconstruídas enfrentam desafios diferentes das famílias tradicionais. Logo no início da relação amorosa surge um novelo de relações que nem sempre é fácil de gerir - os membros do casal não podem simplesmente centrar a sua atenção um no outro. Se, nesse processo de adaptação, estiverem incluídas lutas de poder pelos afectos dos filhos e/ou a utilização das crianças como joguetes, é provável que os níveis de tensão estejam sistematicamente elevados. Como descreve e bem, quando o divórcio não é aceite por um dos cônjuge, a guerra psicológica tende a prolongar-se no tempo, devastando o bem-estar de todas as partes envolvidas. Considero, no entanto, que no meio de todos estes incidentes existem alguns bons sinais. Antes de mais, o facto de terem já passado dois anos e ter sido capaz de superar tantas batalhas é , sem dúvida, um sinal de resiliência (capacidade para superar as adversidades).

De um modo geral, depois dos tumultos dos primeiros anos, as famílias reconstruídas tendem a encontrar a sua estabilidade e a criar laços sólidos que lhes permitem encarar o futuro com optimismo.

Também considero positivos os avanços que existiram na relação do seu companheiro com as filhas. À medida que a ex-mulher se sentir pronta para se desvincular do passado e avançar para a sua própria reconstrução familiar é expectável que a tensão diminua e que o papel de cada adulto fique mais claro.

No meio disto tudo é importante que todos se esforcem para minimizar o impacto destas dificuldades na estabilidade das crianças. Se as desavenças e os ciúmes derem lugar à cordialidade, todos beneficiarão.

Mas o seu papel de madrasta não deve impedi-la de alimentar a sua relação conjugal. Os projectos a dois podem não passar pela existência de filhos comuns, mas devem ser co-construídos. Centre-se naquilo que sente pelo seu companheiro e não deixe de sonhar, definir objectivos para a sua relação.