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SOLIDÃO

Não sei o que fazer com a minha solidão. Tenho vivido em solidão, sem que ninguém percebesse. É natural, a solidão associa-se a quem vive sozinho, e na nossa casa éramos cinco, três filhos, pai e mãe, dois dos filhos já casaram e o terceiro, com 20 anos, não tardará muito. Será que estou a sentir a falta dos meus filhos? No fundo criámos uma união onde eu os fiz felizes, tanto quanto eles me fizeram a mim. O cuidado que pus neles foi sempre igual ao cuidado que eles tiveram comigo, a honestidade que lhes pedia era exactamente igual à que lhes dava, criando-os com valores e responsabilizando-os pelos outros, de tal maneira que me preocupava tanto com os perigos do meu filho chegar tarde como ele se preocupava de eu chegar. É uma relação onde quando me ausento fico de telefonar quando chego ao meu destino como eles o fazem e sabem que não é por ser mãe ou serem filhos, é por nos preocuparmos uns com os outros. Sei que não foi a saída dos meus filhos de casa, que me deixou ou deixará a viver em solidão, pelo contrário, a saída de casa por parte dos meus filhos é o meu êxito como mãe, vê-los capazes de fazer a sua vida, ver a minha filha a fazer o seu próprio comer, a tratar da sua casa, a pagar as suas contas, e sem precisar de mim, deixa-me feliz e tranquila. O problema foi que, há pouco tempo, um dos meus filhos, perante a minha tristeza, disse-me: mãe, pensa bem, já viste? Tu tens os teus filhos, somos teus amigos, estamos bem, porque não és feliz? Com a honestidade que eles me conhecem, e porque já são adultos, disse-lhes que o facto de terem uma boa mãe fez deles filhos felizes, que a boa mãe acarinhou-os sempre nos momentos em que se sentiam pessoas infelizes, quer no emprego, quer nas suas relações amorosas, e que nunca lhes tinha dito, têm a vossa mãe que vos faz feliz o que querem mais? Assim, por ironia do destino, não foram os meus filhos, fartos do meu apego, a dizer-me que eles não eram a minha felicidade, fui eu que lhes disse que nunca duvidassem de que sou a mãe mais feliz do mundo por ter os filhos que tenho, mas que não sou só mãe, sou mulher e como mulher sou infeliz. Acho que os meus filhos olharam para mim de uma maneira diferente, talvez tenha sido um dos grandes momentos da minha vida, momento onde consegui de uma vez por todas que não houvesse dúvidas, acho que os descansei, de que a minha tristeza, solidão, infelicidade ou seja o que for, nada tem a ver com eles, e que não lhes cabe a eles resolver. Foi bom para eles e para mim, vivi amargurada muito tempo, a conter lágrimas ou a secá-las à pressa, com sorrisos "amarelos" a tentar que parecessem radiosos, porque não tinham idade para lhes explicar, que a minha tristeza nada tinha a ver com eles, hoje já sabem que não é a mãe que está a chorar mas a mulher que a mãe também é. Assim, o meu filho quando estou triste passa-me a mão pela cabeça, dá-me um abraço ou um beijo, exactamente o que eu sempre fiz quando ele estava triste. Com isto tudo, esqueci-me de dizer que vivo com o pai dos meus filhos. Não sei o que fazer com a minha solidão.

R.

Começo por louvar a reciprocidade, o carinho e a sinceridade que marcam o seu papel de mãe e, consequentemente, a relação que foi capaz de desenvolver com cada um dos seus filhos. Temo, no entanto, que a sua dedicação a este papel também tenha servido para calar as lacunas existentes noutras áreas da sua vida. Como uma mãe não é apenas mãe, a forma como vive os outros capítulos da sua vida condiciona não apenas o seu bem-estar, mas também a estabilidade emocional dos seus filhos. Como pode transmitir-lhes a importância do amor romântico se não for capaz de lutar pela sua própria felicidade? Bem sei que terá dado o seu melhor ao longo de todos estes anos no sentido de garantir precisamente um ambiente familiar harmonioso aos seus filhos. A minha pergunta é: a que preço? Mais: quão confortável se sentiria se soubesse que a sua filha seca as próprias lágrimas à pressa? Que legitimidade terá para lhe sugerir que não se acomode?

Não reconheço nenhum motivo para que continue a sentir-se só, do mesmo modo que não acredito que alguém possa sentir-se feliz se apenas o for numa parcela da sua vida.

Se deu tanto de si aos seus filhos, não estará na altura de investir agora um pouco mais em si? Pense no caminho que já percorreu e, sobretudo, no caminho que ainda lhe falta percorrer. O medo de arriscar pode ser confrangedor, mas é ultrapassável, nomeadamente quando nos propomos sonhar e reconhecer que a vida é o que quisermos fazer dela. Pense nos seus sonhos, nos seus objectivos, nas metas que gostaria de alcançar e reflicta sobre as mudanças que precisa implementar no sentido de se aproximar desses desejos.