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O MEU NAMORADO NUNCA PEDE DESCULPA

Sinto-me desesperada... Não sei o que fazer... Namoro há cerca de 4 anos com o mesmo rapaz, há quase 3 estamos juntos em união de facto. Gosto muito dele e queria passar o resto da vida com ele. O problema é que, sempre que temos uma discussão, ele não se importa em resolver a situação e despreza-me o tempo todo (já chegou a ser mais de 1 mês assim, só falando o básico) até que eu decida falar com ele (depois de várias tentativas que acabam sempre por piorar a situação). Acaba sempre por me dizer que me faço de vítima e que ninguém me pode dizer nada que fico amuada! Sinto-me mal porque não é verdade! Quando o confronto com aquilo que ele fez de mal e que me magoou, nunca admite ou sequer pede desculpa, rodeando o assunto e acabando por dizer que se o fez foi porque eu provoquei ou a culpa é minha... Ignora-me durante os dias e à noite até parece que estou a dormir sozinha. Só quando ele decide que é altura de "fazer as pazes" é que me procura sexualmente. Ou seja, ele acha que o facto de termos sexo vai fazer com que eu esqueça o que aconteceu. Mas não é verdade. Agora estamos numa crise igual, já dura há mais de 1 mês. Eu fui com uma amiga a uma casa de chá (raramente saio de casa, há meses que não saía de casa a não ser para o trabalho, supermercado e visitar a minha mãe) e cheguei às 2h da manhã, quando tinha dito que por volta da meia noite estava em casa. Era uma Sexta-feira. Quando cheguei chamou-me nomes e gritou comigo (os vizinhos devem ter ouvido, as paredes que dividem são muito finas). Disse-me que nem era preciso ter ido dormir a casa, que só arranjo amigas que me desencaminham e só querem ser vadias... Magoou-me muito e passado uns dias procurou-me sexualmente como forma de fazer as pazes (apesar de mal falar comigo durante o dia) e eu ganhei coragem e disse-lhe que não aguento ter contacto físico com ele depois de tanta coisa má que me diz e faz. Acabou por me acusar de não querer fazer as pazes e por dizer que já não sinto desejo por ele (o que é mentira!) e que devo andar a traí-lo. A verdade é que frequentemente tento falar com ele na expectativa de resolver as coisas a bem, e só recebo desprezo ou gritos histéricos porque diz "já está farto de tanta conversa"! Sinto-me com o mundo a desabar, depositei toda a minha vida nesta relação porque o amo muito e sinto que não consigo viver sem ele apesar do que me faz sofrer. Nunca o traí, sempre o respeitei, dou carinho, atenção, compreensão... Não sei o que tenho de mal para ele me tratar assim... Sinto-me sem coragem para viver...

I.

Quanto maior é o amor que nos une a uma pessoa, maior é a probabilidade de nos sentirmos profundamente magoados e infelizes aquando de uma discussão. Se por um lado todos nós reconhecemos que também nos excedemos nas discussões conjugais, é-nos sistematicamente mais difícil aceitar que a pessoa que amamos é capaz de nos dizer coisas terríveis. A verdade é que à medida que as discussões se agudizam é fácil perder o controlo da situação e transformar uma conversa mais acesa num braço-de-ferro de que ambos acabam por sair magoados.

De um modo geral, os casais mais felizes aprendem a controlar a escalada das discussõem e implementam, com sucesso, tentativas de reparação que não são mais do que formas de quebrar o gelo, arrefecer a cabeça e impedir que a briga entre por caminhos que possam ameaçar a relação. Estas tentativas de reparação podem passar por frases como "Desculpa, mas estou demasiado enervado(a) para continuar esta conversa" ou "Preciso de me acalmar" ou por gestos apaziguadores. A eficácia destas pequenas tentativas de reconciliação depende, como se percebe, da capacidade que os membros do casal têm para entender estes gestos como protectores da relação e não como fugas ao problema.

Por outro lado, é óbvio que não é saudável para uma relação amorosa que os cônjuges possam estar muito tempo "amuados", numa situação de mera co-habitação. Dar o braço a torcer implica ter a capacidade para pedir desculpa, engolir o orgulho e investir na reaproximação, sob pena de o desprezo minar a relação.

Existem algumas diferenças entre homens e mulheres que podem agravar os ciclos das discussões - por um lado, a generalidade dos homens sente-se mais acelerado perante as discussões ou mesmo perante tentativas mais ou menos serenas de se conversar sobre os problemas, pelo que tendem a fugir a quaisquer conversas potencialmente geradoras de tensão; além disso, a reaproximação sexual depois de um momento de tensão é mais facilmente aceite por homens do que por mulheres. Como as mulheres precisam quase sempre de se sentirem emocionalmente estáveis para voltarem a investir na intimidade sexual, podem sentir-se ultrajadas quando uma tentativa de aproximação desta natureza precede a existência de qualquer conversa. Sentem-se usadas, desconsideradas, ainda que, na verdade, o companheiro não tenha qualquer intenção de desprezar o problema.

Quando as discussões e/ou os silêncios ensurdecedores tomam conta do dia-a-dia do casal, é importante parar para pensar no que pode estar a acontecer. A manutenção destes ciclos pode contribuir para o crescente afastamento emocional dos membros do casal, pelo que quanto mais cedo for feito o pedido de ajuda terapêutica, maior será a probabilidade de sucesso.