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CIÚME PATOLÓGICO

Sou uma mulher de 23 anos e recentemente terminei uma relação com um homem de 26 anos que julgo que sofre de ciúme patológico. Amo-o e sinto que estou a desistir apesar de, racionalmente, me dar conta de que a relação era insustentável. Para ele tudo era sinónimo de traição. Tudo. Durante a noite, ao trocarmos sms, eu fechava os olhos porque estava cheia de sono e despertava dez minutos depois com uma chamada dele a acusar-me de estar a falar com outros, quando eu simplesmente tinha adormecido e ele sabia que eu já me tinha deitado. Cada pequeno episódio servia para sustentar uma traição qualquer. Ele dizia também que eu mantinha casos com vizinhos! E sem qualquer fundamento, porque as únicas palavras que eu troco com as pessoas que habitam no meu prédio são de bom dia ou boa tarde. Ele desconfia de tudo... No início da relação ele já se mostrava um pouco inseguro... E de repente começou a ligar pormenores e a montar uma história... Basicamente, parece-me que começou a desconfiar de mim a partir do nada, e cada vez mais e mais. A ser muito ciumento, a fazer-me interrogatórios e a olhar para mim e afirmar que eu o traía. Comecei a ficar com receio de tudo o que eu pudesse dizer ou fazer que fosse suscitar alguma má interpretação. A partir daí foi ficando pior e pior, até chegarem as agressões verbais da parte dele. E eu tolerei sempre por gostar imenso dele. Contudo, terminámos e estivemos separados durante um mês. Voltámos mas só durou duas semanas até nos afastarmos novamente porque ele pura e simplesmente não consegue confiar em mim. Mas ele é completamente paranóico, porque a verdade é que eu nunca o traí, nunca sequer mantive conversas com outros homens. E mesmo assim, tudo era um motivo, até uma música que eu estivesse a cantarolar era porque me lembrava alguém. Não sei o que fazer, isto é tudo menos saudável, mas eu não o consigo esquecer.
M.

À medida que amadurecemos, aprendemos que é possível aliar as emoções à racionalização. A expressão "amar de olhos abertos" faz todo o sentido, sob pena de, em nome de um suposto amor, permitirmos que os nossos sentimentos, concretamente alguns medos, nos impeçam de ver, efectivamente, a realidade em que vivemos. Se, por um lado, é óbvio para mim que o comportamento do seu namorado traduz uma boa dose de possessividade e de irracionalidade, também me parece evidente que a M. não tem sido capaz de dar voz ao seu sofrimento. Não me canso de dizer que os outros fazem connosco aquilo que nós permirirmos que eles façam. Sempre que o seu namorado a acorda com um telefonema acusando-a de estar a traí-lo, não está apenas a ultrapassar os limites do que é razoável - está também a desrespeitá-la, a feri-la e, portanto, a destruir a sua auto-estima. Importa dizer-lhe que acredito que todo este padrão comportamental implica uma grande dose de sofrimento para o seu namorado e que estou certa de que ele não deseja prejudicá-la. Acontece que esta possessividade "serve" essencialmente para que o seu namorado se proteja das suas próprias inseguranças. Sempre que se zanga consigo, sempre que faz um escândalo, o seu namorado evita olhar para aquilo que o entristece, para o que o fragiliza. Trata-se, por isso, de um mecanismo de defesa comum, que merece atenção especializada.

Mais tarde ou mais cedo a M. deverá olhar para tudo aquilo que tolerou até aqui e poderá, nessa altura, avaliar até que ponto as suas inseguranças terão contribuído para a manutenção do problema. Aconteça o que acontecer no futuro, compete-lhe a si definir limites muito claros no que toca ao respeito por si.