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EX-MARIDO COM CANCRO

Sou divorciada há 7 anos e desde há 2 tenho uma relação com uma pessoa que vive no estrangeiro. O meu ex-marido nunca se importou com os filhos, já durante o casamento era um pai muito ausente, mas com o divórcio nunca os procurou. Era eu que dizia aos meus filhos para lhe ligarem até que um dia os meus filhos também disseram chega, pois se ele não os procurava eles também não tinham que o fazer... Fiquei com as dívidas todas, ele nunca deu nada, trabalhava mas não fazia descontos para não o obrigarem a dar sustento. A família dele nunca se preocupou com os menores... Na altura tive que deixar a minha casa e ir para a da minha mãe, mas como as minhas irmãs pensavam que eu ia ficar rica porque não pagava renda expulsaram-me de lá com uma agressão. Fiquei na rua com 2 filhos e liguei ao meu ex pedindo auxílio ao menos para os meninos e ele mandou-me ir para prostituta... Há 1 ano soubemos que ele estava com cancro em fase terminal, davam-lhe 3 meses de vida... Fomos vê-lo e decidi trazê-lo para minha casa, porque a familia queria mais é que ele morresse... Não pedi conselhos a ninguém para o trazer, fi-lo de coração porque é pai dos meus filhos. Eu tinha acabado de fazer uma cirurgia e a minha recuperação foi acompanhá-lo a quimios, médicos, etc... Paguei tudo do meu bolso porque ele não tinha dinheiro... A família nunca perguntou nada... Também nao levei a mal porque fui eu que o quis trazer. Quem me ajudava monetariamente era o meu companheiro que percebeu e apoiou-me no que eu estava a fazer... Ao fim de 6 meses de estar cá em casa e quando ganhou mais força, estava a voltar a ser o marido de quem eu me divorciara, e isso não me agradava. O meu companheiro já não estava a gostar da situação. Então e porque consegui que ele recebesse a reforma por invalidez, eu achei que já podia ir para casa dele, mais autónomo a todos os níveis... E eu tinha uma relação que tinha que preservar... Concluindo, esteve em minha casa esses meses e foi viver para casa dele, com o pai... Desde aí piorou outra vez.... Fui operada à coluna agora e, como vou com a minha filha para o estrangeiro, para viver com o meu companheiro, decidi ir há 2 semanas ter com ele à quimio. Quando o vi outra vez tão magro, tão em baixo, trouxe-o outra vez, avisando que era só por uns dias porque dia 10 vou embora... Mas a verdade é que sinto-me culpada por deixá-lo. Não gosto dele, apenas faço isto de coração porque sou assim, coração mole... Os meus filhos são contra mim por eu fazer isto. Dizem que o pai nunca quis saber deles. Eu sei que é verdade. Está cá há 2 semanas e eu pago tudo, até tabaco... O meu companheiro desta vez foi contra a minha decisão mas aceitou... A família dele nem um telefonema fez a saber dos meus filhos, nem pergunta se eu estou bem da cirurgia à coluna. Eu sei que o cancro é horrível, mas ele não fala com os filhos, nao lhes pergunta como foi o dia, como se sentem, ouve-me queixar de dores e não pergunta nada. Só diz: não tenho tabaco, não tenho isto... E eu lá vou comprar. Mas quando o convidei para vir não disse que ia pagar os seus vícios. Pensei que a doenca o tinha mudado. Agora que ele tem de ir embora eu estou cheia de pena porque sei que ele sozinho com a família vai abaixo... Mas devo abdicar da minha vida e ficar a tratar dele por pena? E os meus filhos? Eles acham que eu devo seguir a minha vida e não me preocupar com ele. Mas sinto que estou a ser egoísta!!!! Também gostava de ter apoio se um dia tiver cancro...
A.

De um modo geral, o ser humano colhe em momentos fulcrais em função daquilo que semeou ao longo da vida, isto é, quanto mais investimos nas nossas relações sociais e familiares, maior é a probabilidade de nos sentirmos apoiados por estas pessoas quando mais precisamos. Claro que existem excepções - tanto pela positiva, como pela negativa. Há pessoas a quem nos dedicamos e que, quando é preciso, não estão lá para ajudar; mas também há pessoas com quem não fomos tão justos e que nos surpreendem positivamente. Independentemente das voltas que a vida dá, há um valor que considero fundamental e que faz parte da vida das pessoas emocionalmente mais inteligentes: a gratidão. Não creio que o seu ex-marido esteja a ser capaz de reconhecer os seus esforços, e é por isso que o seu actual companheiro e os seus filhos não estarão a empatizar com a situação. Mas devo alertá-la para a sua responsabilidade nesta matéria, já que, como digo inúmeras vezes, os outros fazem connosco aquilo que nós permitirmos que eles façam. Se é verdade que a sua solidariedade é louvável e que a ajuda que tem dado ao seu ex-marido faz de si uma pessoa mais digna e altruísta, também é verdade que esta ajuda deve ser reconhecida, valorizada e não explorada. Por que compra tabaco para o seu ex-marido? Por que não se limita a contribuir para o seu conforto e saúde, em vez de também lhe alimentar os vícios e/ou luxos? Não poderá estar a colocar-se a jeito para ser mal-tratada? Não estará a exigir de menos e, por isso, a desrespeitar-se? Não acho que esteja a ser egoísta ao pensar também nos seus interesses, nem me parece ajustado que adie sistematicamente as suas escolhas. Para que possa continuar a ajudar as pessoas que estão à sua volta é preciso que continue a viver a sua vida e isso inclui continuar a amar, continuar a regar as relações que lhe são significativas.