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DOIS AMORES

Sinto que a situação que vou expôr pode parecer ridícula ou até mesmo infantil, mas cheguei a um ponto em que não sei o que fazer, e dou por mim desesperada a tentar perceber. Tive uma relação que durou quase 6 anos, terminou de modo fulminante de um dia para o outro, e o meu ex, uns dias depois, já tinha outra companheira. Impus a mim mesma que não ia ficar mal, que ia superar desse por onde desse porque não era o fim de mundo. Confesso que nos dois primeiros dias senti o mundo a desabar, mas depois, de um dia para o outro, houve uma reviravolta interior e agarrei em todas as forças que tinha para seguir em frente. E segui. Não pensei nele, esforcei-me por sair, divertir-me, e viver a minha vida. Passados uns meses conheci outra pessoa com quem iniciei um relacionamento que dura há cerca de 18 meses. Sei que gosto dele, embora nunca me tenha conseguido entregar da mesma forma, e sei que às vezes demonstro até uma certa frieza. Esta relação não é um mar de rosas. Inicialmente foi completamente afectada por actos de machismo, tentativas de controlo da minha vida, pode-se até dizer que houve uma certa violência psicológica. A verdade é que ele mudou radicalmente, ainda que não seja perfeito. Mas sinto que nunca o desculpei verdadeiramente por aquele sofrimento que eu não merecia e que durou meses. E há umas semanas dou por mim a pensar no meu ex-namorado, de manhã à noite, de forma sufocante. Lembro-me das coisas que não merecia, da traição, mas lembro-me sobretudo das coisas boas, até com uma certa saudade, porque nunca mais senti aquela paixão. A verdade é que me sinto desonesta agora, porque estou com alguém que gosta de mim, e tenho medo de estar confusa. Parece que tudo o que devia sentir pelo meu ex quando acabámos e que foi completamente recalcado vem agora à tona e deixa-me sem reacção. Nao quero magoar a pessoa com quem estou, e gostava de poder expor certas coisas, não contar tudo, mas falar com ele. Mas ele nunca aceitaria, até porque tem muitos ciúmes. O meu ex nunca saiu da minha vida, sempre fui obrigada a vê-lo, a conviver com ele, e a agir como se fosse tudo normal. E, neste momento, sei que não é. Não sei o que fazer. Não quero ser o tipo de mulher que está com alguém a pensar noutra pessoa. Mas também não quero deixar a pessoa com quem estou, talvez por uma mera infantilidade que poderá passar com o tempo.
D.

Não só não considero nada ridícula a questão que colocou como devo dizer-lhe que esta é uma situação relativamente comum. Nem todas as pessoas são capazes de reconhecer as suas próprias emoções, tão-pouco de as gerir de forma inteligente. Daí que nos confrontemos diariamente com situações familiares onde não reina a harmonia ou com casais que há muito deixaram de se amar mas que, por algum motivo, não são capazes de assumir a ruptura.

Tanto quanto pude perceber, não se sente segura em relação ao que sente pelo seu namorado. Ora, quando não nos sentimos seguros em relação aos nossos sentimentos, aumenta a probabilidade de surgirem comparações com as relações anteriores, ou até com outras pessoas com quem convivamos. O que acontece é que algures ao longo deste tempo alguma coisa esmoreceu, permitindo que se abrisse espaço para este tipo de balanços.

Percebo que não queira ferir o seu namorado, nem tão-pouco colocar em risco a sua relação e que, por isso, tenha preferido resguardar-se. Mas a verdade é que, para que uma relação amorosa continue a crescer, não apenas é crucial que continue a haver honestidade, como é fundamental que os membros do casal se sintam seguros quanto à partilha dos seus sentimentos. Claro que a partilha das suas dúvidas tem um preço - o seu namorado poderá sentir-se fragilizado. Mas essa é a única via que conheço para que a relação evolua. Fechar-se sobre si mesma ajudá-la-á a alimentar fantasmas e, a prazo, levá-la-á a comportar-se de forma "estranha" com o seu namorado, sem que ele possa fazer algo para ir ao encontro das suas necessidades.

Converse com ele, centrando-se em si, naquilo que sente. Dê-lhe uma oportunidade para a conhecer (ainda) melhor.