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SER CONTRARIADO... É COMPLICADO

Sou mãe solteira, por opção. Aqui na minha casa nunca houve constrangimentos por esse facto. Talvez eu seja uma daquelas mulheres que se dispôs a viver a vida de acordo com as próprias convicções, porque penso que só assim é possível sentir-me bem comigo, logo, mais feliz. Portanto, nunca me preocupei em seguir ditames. Praticamente temos vivido só os dois, no fundo, um para o outro. Sempre soube que o meu filho era uma criança difícil, sempre mal disposto, principalmente ao acordar, altura em que sempre fez birras. Na escola começou a ter problemas com a assiduidade,lá pelos seus 12 ou 13 anos. E assim foi sendo progressivamente até completar o 5.º ano de escolaridade. Chumbou três vezes, dois anos devido à ausência de aproveitamento suficiente e um ano por faltas. Penso que tinha dificuldades em lidar com o ambiente da escola e com os colegas. Qualquer coisinha e ficava logo de cara feia. Há pouco tempo começou a trabalhar na mesma empresa onde laboro. De início tudo correu sobre rodas, parecia gostar muito e sentiu-se dono de si e do seu dinheiro. Mas mais tarde começou a queixar-se dos colegas. Primeiro ainda lhe dei alguma razão, porque até eu tive dificuldades quando entrei naquela empresa, igual a tantas outras. As pessoas é que são muitas e estão juntas oito horas diárias 5 dias por semana, situação que logo à partida pode gerar conflitos nos mais diversos contextos. Temos que saber adaptar-nos às circunstâncias do momento. Mas ele não se adapta e o pior foi a conclusão a que cheguei quando comecei a reunir as pontas. Parece haver algo de complicado com o meu filho, isto é, parece ter uma profunda incapacidade para ser contrariado, tudo tem de correr de acordo com a sua vontade e, se isso não acontecer, desiste. Basta um colega não concordar com ele, num qualquer ponto de uma conversa informal e o meu filho começa a nutrir sentimentos nada simpáticos acerca desse colega. Faço-lhe ver que as pessoas são livres de terem pontos de vista diferentes, até porque depende das experiências de cada um. Mas ele permanece irredutível, só ele é que sabe. Agora deu em faltar ao trabalho e com isto sinto-me desesperada. Que faz um jovem de 19 anos em casa, sem trabalhar, sem poder estabelecer e concretizar objectivos? Durante o seu tempo de escola dedicou-se a uma área da informática, sozinho, e através de intensas pesquisas no Google. Pelo que me foi possível saber, nessa área ele é muito bom. Talvez por isto vive a dizer que é o que gostaria de fazer, não entende que até essa oportunidade lhe cair do céu aos trambolhões, vai ter de trabalhar em outras coisas, como tantos outros fazem com tanto ou mais talento do que ele. Pode levar anos a conseguir os seus intentos, por isso queria que ele entendesse que não deve desempregar-se. Corre o risco, até, de se fartar de estar desempregado e ter de ir trabalhar para um local de que goste menos, aliás, onde estamos é bastante bom. Não consigo estabelecer conversas com ele. Quando o assunto lhe desagrada, desata aos gritos, nem que seja de madrugada, incomodando os vizinhos e diz que não tenho nada que me meter na vida dele. Que argumentos deverei utilizar para o convencer de que a direcção que está a tomar não é a melhor?
M.

A resistência à frustração e a capacidade para enfrentar os obstáculos são competências essenciais ao nosso bem-estar emocional e isso ultrapassa, em larga medida, as questões associadas à realização profissional. É possível que o seu filho não tenha adquirido ainda a maturidade que lhe permita valorizar aquilo que tem, nem tão-pouco conviver com as desvantagens associadas a cada escolha. Compreendo que se sinta magoada e preocupada, sobretudo porque sabe com certeza que, sem esforço e até alguns sacrifícios, pouco ou nada se consegue na vida.

É importante que no seu papel de mãe seja capaz de transmitir a forma como se sente em relação a alguns dos comportamentos do seu filho. Mais do que fazer críticas que possam ser entendidas como ataques ao seu carácter, importa que seja capaz de se centrar em si ("Quando tu... eu sinto-me..."). Mas também é crucial que possa exercer a sua autoridade como mãe e isso inclui, por exemplo, não patrocinar os gastos do seu filho. A crescente responsabilização e dedicação ao trabalho - nesta ou em qualquer outra organização - dependerão da sua própria capacidade para dizer não. Só assim será capaz de o levar a assumir e manter os seus compromissos.

Para que a leitora possa manter o pagamento das despesas da família, teve com certeza de "engolir muitos sapos" ao longo da sua carreira, pelo que não será ajustado tentar proteger o seu filho de eventuais desilusões. É também com os erros e com as reviravoltas que se aprende e eu estou certa de que o seu filho vai a tempo de adquirir as competências necessárias para que possa ser um profissional respeitado.