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INFIDELIDADE DE LONGA DATA

Casei-me no início de 2005 com a namorada de há muito, tínhamos então 27 anos. Tudo ok, felizes. De vez em quando, uma discussão ou outra pela pouca abertura dela para o sexo e eu a pensar que ela não é muito dada a coisas 'fora do convencional'. Fomos pais no início de 2007. No final de 2009 chego a casa e ela, chorosa, diz-me que tinha beijado um par de vezes um indivíduo mais velho 30 anos do que ela, que eu sabia estar a trabalhar com ela e de quem já me tinha falado. Uns beijos, coisa pouca, ok, deixei passar, com dor, obviamente. Mas a história 'cheirava' mal pelo que insisti. Uma semana depois, contou-me o resto. Conheceram-se no final de 2003, encontravam-se de vez em quando e, quando havia oportunidade, trocavam mais do que beijos. Houve sexo um par de vezes, houve sexo oral não protegido umas poucas vezes, trocavam mensagens a roçar o hard core por telefone ou pelo chat, e eu na minha perfeita ignorância. Inclusive falaram-se quando fomos de lua-de-mel. Agora jura-me que não sabe explicar porquê, diz que estava fascinada por aquele indivíduo, que procurou uma experiência nova no início e que depois se descontrolou. Diz que me ama, que sempre o fez, que não sabe explicar como é que isto pode acontecer. Que sente nojo e vergonha quando se vê ao espelho. E eu, que amo esta mulher, que em público tem uma imagem de respeitável esposa, filha, mãe, amiga, e em segredo se portou como uma femme fatale fria, estou aqui, entre a espada e a parede, indeciso entre o meu coração e o meu orgulho...
D.

A revelação de uma infidelidade representa quase sempre um choque emocional, independentemente dos detalhes de cada história. Neste caso, o facto de se tratar de uma relação extraconjugal de longa data, com os contornos que descreveu, indicia algum envolvimento emocional, pelo que acredito que o seu sofrimento seja ainda maior. É absolutamente legítimo que se sinta perdido e que até tenha dúvidas em relação aos seus sentimentos - tudo isso é expectável e natural. É preciso algum tempo para que a poeira assente e a confusão mental dê lugar a alguma estruturação. Mesmo que não se sinta seguro dos passos que deve dar, ou dos passos que é capaz de dar, importa que possa avaliar aquilo que ainda sente pela sua mulher, para que assim possa determinar se está ou não disposto a voltar a investir no seu casamento. Acredito que a sua mulher o ame e que esteja também a sofrer muito com esta revelação. De resto, o facto de trabalhar diariamente com casais que viveram a experiência da infidelidade faz com que eu tenha a obrigação de perceber que se trata de um processo em que todos sofrem e em que nem sempre é fácil responder aos porquês.

Sem querer ferir a sua susceptibilidade, e reconhecendo que a infidelidade não é um comportamento que dignifique ninguém, devo chamar a atenção para o facto de a traição representar, acima de tudo, a ponta do icebergue, já que existem quase sempre dificuldades conjugais antigas que abrem espaço ao aparecimento de uma terceira pessoa. Reconstruir um casamento na sucessão de uma infidelidade implica ser capaz de olhar em retrospectiva e identificar os erros cometidos por ambos. Trata-se de um processo difícil, mas compensador.