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MARIDO COM ACESSOS DE FÚRIA

O meu marido tem desde há cerca de um ano e meio acessos de fúria desproporcionais relativamente às situações. A título de exemplo, ontem chamou a atenção da minha filha (de doze anos) para que esta retirasse do lavatório uma toalha de banho que deixara lá esquecida ao tomar banho... Quando ele lhe pediu para arrumar a toalha ela respondeu-lhe (debaixo do seu nariz empinado de doze anos) "se faz favor, sim?" e ele em vez de levar a coisa para a brincadeira decidiu dizer-lhe que aquilo não era mais que a obrigação dela. Mas ela manteve a frase, ao que ele repondeu com uma irritabilidade exacerbada dizendo-lhe que nunca mais trataria da roupa dela, em gritos e fúria absolutamente desadequados à situação... Apesar de ele ter razão no conteúdo da discussão (ela tem de deixar as coisas conforme as encontrou) perdeu toda a razão que tinha na forma como reagiu, obrigando-me a intervir e acabando por ter que lhe dizer que fosse dar uma volta, que fosse espairecer, até lhe passar a fúria, o que leva a que ela se sinta com uma ar vitorioso, e que vai crescendo de cada vez que há uma situação destas. Eu não posso permitir que ele trate assim a minha filha (embora sejam situações pontuais, e embora em termos normais tenham um bom relacionamento, não posso aceitar estas fúrias que já começam a afectar o meu filho mais novo, do qual ele é pai). Para além disso estou grávida, no nono mês de gestação, e começo a ver-me ficar sozinha com três crinças, um deles recém-nascido... Por outro lado, tenho noção de que neste momento recai sobre ele um enorme peso quanto às tarefas domésticas uma vez que cá em casa somos 4 e eu neste momento pouco mais consigo fazer do que as refeições, implicando isso já um esforço grande pois, apesar de ser adepta do lema de que gravidez não é doença, este meu barrigão já incomoda muito, agravado pelo facto de ter uma soneira desgraçada induzida pela medicação para tratar a hipertensão. Já o mandei embora, já lhe disse que não podia permitir isto mas, por outro lado, também tenho noção das minhas fragilidades e atendendo a que o parto está próximo não posso prescindir da sua presença agora pois não tenho quaisquer apoios e preciso que alguém fique com os miúdos quando for para a maternidade... Já pensei em sugerir-lhe a terapia familiar, ou individual, não sei qual a mais adequada a este caso, mas também estamos com bastantes dificuldades pois ele está desempregado e as divisões que ele faz do subsídio dele é 100€ para o filho mais velho que vive com a mae, 150€ cá em casa onde vive ele e o filho mais novo e 170€ para ele para cigarros e cafés, o que me parece no mínimo uma exploração.
M.

Não conheço a maior parte da história do seu casamento, mas presumo, em função da descrição que fez, que as dificuldades por que tem passado são situacionais, isto é, resultam de episódios específicos mais ou menos recentes, pelo que valerá a pena olhar retrospectivamente para os recursos desta relação. É possível que alguns problemas sérios, como os constrangimentos financeiros resultantes do desemprego do seu marido associados às mudanças inerentes ao nascimento de mais uma criança, estejam na origem de algumas dificuldades de comunicação, que acabam por traduzir-se na sensação de desamparo que tão bem descreve.

Embora ouçamos falar diariamente sobre as vítimas do desemprego, só quem passa por esta situação conhece bem o impacto emocional que daí resulta e que vai muito além do aperto financeiro. Não sei há quanto tempo é que o seu marido está desempregado, pelo que não posso extrapolar acerca da origem da sua irritabilidade e do seu descontrolo, mas posso afirmar com segurança que esta é uma situação que origina fragilidade e desespero. Presumo que não seja fácil para o seu marido não estar, particularmente nesta fase, capaz de suprir todas as necessidades da família. Como acontece em muitas outras famílias, é possível que o seu marido não esteja a ser capaz de exteriorizar a sua tristeza de forma ajustada, acabando por acumular muita tensão que, pontualmente, acaba por ser exteriorizada sob a forma de explosões.

Não lhe compete ser médica ou psicóloga do seu marido nem tão-pouco "passar a mão pela cabeça" aquando dos seus erros, mas é crucial que dê o seu melhor no sentido de lhe mostrar que não são adversários. Juntos podem com certeza gerir as fragilidades que estarão na origem de episódios como o que descreveu, mas para isso terão de voltar-se para dentro da relação, prestando atenção aos sentimento e às necessidades afectivas de cada um. Se não é fácil encontrar tempo diariamente para conversar com o companheiro sobre as questões do dia-a-dia de cada um, é-o ainda menos aquando do nascimento de um bebé, mas também não é impossível. Muitas vezes, bastarão dez ou quinze minutos por dia marcados por palavras e, sobretudo, gestos de conforto, para que ambos voltem a sentir-se conectados.

Mais do que trabalhar as questões relacionadas com a comunicação, parece-me urgente que um e o outro dêem alguns passos no sentido de mostrar que precisam desta relação e que querem fazê-la funcionar. Há muitas formas de se alimentar o amor romântico e, mesmo nas fases de maiores dificuldades, é possível mostrarmos à pessoa que está ao nosso lado que estamos atentos aos seus sentimentos, confiamos nela, dependemos dela em termos afectivos, e que estamos "lá". Claro que a terapia familiar é uma ajuda muito importante face a este tipo de dificuldades e quanto mais cedo for feito o pedido de ajuda mais fácil será resolver os problemas. Mas o importante é mesmo não baixar os braços, não desistir.