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SONHAR COM O PRÍNCIPE ENCANTADO

Desde pequena que sempre sonhei com o príncipe encantado, com o homem perfeito e com o amor para sempre. Sempre disse que não iria casar com menos do que aquilo com que tinha sonhado e um dia encontrei mesmo esse príncipe. Depois de 4 anos de namoro, 3 deles a viver juntos, casámos (há 2 anos). A "roca" deste conto de fadas é o facto de o meu príncipe ter uma filha, fruto de uma relação fortuita da adolescência, e de a mãe da menina ser uma autêntica "bruxa má". Esta mulher é completamente desequilibrada e tem-lhe feito a vida negra - ele assumiu a criança mas nunca a mãe. Tudo o que a mãe é tem conseguido passar para a filha, agora com 12 anos, que se encarrega de me atormentar constantemente. Nunca aceitei esta situação: o facto de ele nunca a repreender quando ela me tenta afastar; de ele não me defender quando a mãe da menina me ofende(só por telefone, felizmente, não a conheço pessoalmente); o facto de ele não me defender quando a família dele me critica. Fui sempre a "madrasta" nesta história cada vez que alertava para sinais de comportamentos de risco (queria beijos na boca do pai até há bem pouco tempo; estava constantemente a mexer-lhe no peito; quando estamos juntos ela faz tudo para ser ela a dormir com ele.. E por aí adiante). O meu marido sente-se culpado por não ter desejado aquela filha e ter sido um pai ausente, embora fale com ela todos os dias ao telefone e a visite de mês a mês, visto que moramos a 300Km de distância. Diz que não a pode contrariar em nada pois está com ela pouco tempo, então compensa-a com prendas. Até que há cerca de 1 ano comecei a falar-lhe em termos filhos, visto ser esse o meu sonho. Concordou. Queria muito. Eu disse-lhe que era muito importante ele querer, pois não queria trazer ao mundo uma criança que não fosse desejada. Mas tudo mudou. Até me sinto um pouco constrangida em dizer isto mas há cerca de 6 meses que não fazemos amor. Já não sei o que pensar, o que fazer, estou desesperada. O meu impulso é pedir o divórcio e recomeçar mas não quero ser precipitada. Temos falado sobre este problema mas a situação mantém-se. Ele diz que me ama e que não se quer separar. Fora a parte sexual, somos felizes, rimos juntos, brincamos, falamos sobre tudo, somos o melhor amigo um do outro e, por incrível que pareça, não adormecemos sem estar a tocar nem que seja o pé um do outro. É ridículo, não é? Eu não tomo a iniciativa porque tenho medo de ser rejeitada e humilhada, mais do que me sinto agora. Eu já lhe disse que por muito que o ame, não posso continuar nesta situação. O meu desejo é ter um filho e receio que se continuarmos juntos vou ter esta mágoa para sempre. Não quero que passem 30 anos e que olhe para trás e veja que a minha vida não passou dum filme triste e dramático e que afinal o meu príncipe se transformou num sapo. Não quero viver com um sapo. Será que a terapia conjugal ajudaria?
C.

O seu sonho é comum à generalidade das pessoas. De facto, quase todas as pessoas ambicionam formar a sua própria família e viver harmoniosamente com aqueles que amam. Teoricamente, há até muitas mulheres que ambicionam encontrar o seu príncipe encantado. Mas a vida, não sendo um drama constante, também não é um conto de fadas. O que quero dizer é que a vida é cheia de desvios e imprevistos, de curvas que nos desviam dos planos que traçámos na adolescência, mas nem por isso é menos bela. Seria tudo mais fácil se o seu marido não tivesse uma filha de uma relação anterior, de facto. Mas essa não é a sua/ vossa realidade, pelo que importa que todos sejam capazes de se adaptar a estas circunstâncias. Compreendo naturalmente que não seja fácil gerir as pressões a que tem estado sujeita, nomeadamente por parte da mãe da sua enteada, mas, como refiro tantas vezes, os outros fazem connosco aquilo que nós permitirmos que eles façam e, ainda que eu considere que o seu marido pode e deve defendê-la, compete-lhe a si impedir que esta senhora a condicione. Mais: nem o seu marido nem a sua enteada podem ser responsabilizados pelos comportamentos desta pessoa e muito menos devem sofrer as consequências dos seus actos. Quando conheceu aquele que é hoje o seu marido, a sua enteada já existia, já era uma parte significativa da vida do seu então namorado, pelo que não faz sentido competir pelos seus afectos. Com certeza que compreendo a sua preocupação em relação aos hábitos porventura desajustados que possam ter resultado de uma tentativa de compensar a criança pela ausência (geográfica mas, sobretudo, emocional). Mas é importante que a leitora tente colocar-se na posição do seu marido. Trata-se de uma criança que, ainda que possa adoptar comportamentos que a magoem, precisa de sentir o afecto do pai, precisa de demonstrações claras de que é importante na sua vida e de que o pai é capaz de lhe prestar muita atenção. De resto, estou certa de que nenhum de nós gostaria de se sentir desamparado por qualquer um dos nossos progenitores.

Olhar para a sua família sem as lentes dos contos de fadas permitir-lhe-á perceber que, na realidade, não só não existem bruxas más, como as madrastas podem ser boazinhas. Estou certa de que apesar destas dificuldades existem afectos da sua parte em relação à sua enteada, mas tenho sérias dúvidas de que o seu marido esteja a percepcionar de forma clara os seus sentimentos e as intenções por detrás das suas queixas. É possível que o distanciamento a que se refere não seja mais do que o reflexo da acumulação de alguns equívocos de comunicação. Trabalho maioritariamente com casais e posso assegurar-lhe que a maior parte dos constrangimentos em termos da intimidade sexual estão relacionados com a insegurança emocional. Do mesmo modo que a leitora ambiciona sentir-se segura a respeito do afecto do seu marido e da capacidade deste para ir ao encontro das suas necessidades, o seu marido precisará de se sentir seguro dos seus afectos, quer por ele, quer pela filha, sob pena de esta insegurança minar os projectos familiares. Sugiro que fale com o seu marido sobre a possibilidade de recorrerem à ajuda da terapia familiar para impedirem que as dificuldades de comunicação se agudizem e possam, assim, ser capazes de recuperar o vosso projecto de vida.