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MARIDO APAIXONADO POR OUTRA PESSOA

Tenho 38 anos, o meu marido tem 39 e sofre de depressão há 4 anos. Estou "desesperada" com o seguinte: estou casada há 13 anos e desde há 2 anos vim perdendo o interesse pelo casamento. Inconscientemente dizia que a toma da pílula tirou a vontade de fazer amor e o meu marido sempre me dizia que um dia arranjava outra mulher. Eu nunca liguei, a isto juntou-se o emprego dele que também chegou a um ponto de saturação. Resumindo, um dia começou com uma conversa de que tinha "2 amores", pediu-me um tempo, entretanto deixei de tomar a pílula e a vontade de estar com ele voltou ao normal. Sempre confiei nele, nunca notei nada de anormal e continuo a confiar. Pela saúde da nossa filha garantiu-me que nunca me enganou nem nunca pensou noutra mulher até ao dia em que começou a sentir algo diferente por uma empregada de um estabelecimento que ele frequenta. Contou-me tudo, não aconteceu nada e diz que não sabe o porquê de se ter "apaixonado" por outra pessoa que, diz, nao é nada de especial, nao lhe acha nada de interessante, não tem uma conversa de jeito, é mãe solteira e pelo que parece é dada a noitadas e maluquice! O meu marido está revoltado com ele próprio porque diz não saber o porquê disto lhe acontecer, nunca deu nada a entender à criatura e diz ter uma opinião mais negativa que positiva dela! Coloca-me numa balança com ela e diz que o prato onde estou está em cima e o dela em baixo! Ela tem 22 anos. Daí para a frente temos tido uma vida sexual super maluca e feliz! Acarinhamo-nos mais, ele diz-me que estou com medo de o perder e por isso estou assim, eu digo que isto vai ser sempre assim, que o que passou, passou. Ele está muito confuso com o que deve fazer, diz que lhe apetece fugir, não sabe se me deixa ou não, diz não ter nada a ver com a outra criatura, que está a tentar esquecê-la e que devia apanhar porrada de ter tanta confusão parva na cabeça dele! O comportamento dele é muito incerto - ora estamos muito bem, mas de repente, se vou dar-lhe um beijo ou um abraço, parece que me empurra. Ele diz que não. Será impressão minha? O certo é que todos os dias choro. Ele diz-me para esquecer isto tudo e continuarmos a nossa vida porque aquilo há-de passar. Noutros dias, mais pessimista, diz que vai levar muito tempo, que se sente perdido num oceano! Eu não o quero perder e sinto-me tão culpada de ter chegado a este ponto que nem imagina. Ele não é pessoa de estar comigo por pena, isso não. Afirma que ainda gosta de mim. Será que se virou para a outra criatura por ser baixinha como eu e trazer-lhe à ideia a minha pessoa? O que faço para o ajudar a limpar tantas dúvidas da cabeça e manter o nosso casamento?
S.

Compreendo que se sinta desesperada, já que tem sido exposta a várias fontes de stress. Em primeiro lugar, lamento que o transtorno depressivo do seu marido se arraste há tanto tempo. Eu sei que nem todos os casos de depressão são rapidamente tratáveis, mas interrogo-me se o seu marido estará sequer a ser acompanhado. Infelizmente, sei o quão difícil é apoiar o cônjuge com depressão e sei também que há o risco de se sentir também deprimida, pelo que sugiro que converse abertamente com o seu médico de família numa primeira abordagem. Não será com certeza fácil expor os detalhes da sua vida numa consulta destas, mas garanto-lhe que é importante dar a conhecer a forma como se sente para que possa eventualmente ser medicada e/ ou encaminhada para uma consulta de especialidade.

Desconheço os factores que poderão ter estado na origem da depressão do seu marido mas não raras vezes estes transtornos andam "de mãos dadas" com os problemas familiares. De resto, é relativamente comum encontrar casais que vivem sob estas duas nuvens negras - a depressão de pelo menos um deles e a infidelidade/ atracção por uma terceira pessoa. Louvo o facto de o seu marido ter sido capaz de lhe contar sobre este enamoramento. Ser-lhe-ia porventura mais fácil ocultar esta atracção e optar por uma vida dupla.

Existem muitas dificuldades conjugais que podem contribuir para o afastamento dos membros do casal, levando-os à ruptura ou ao interesse por outras pessoas. Claro que a infidelidade é uma escolha e, neste caso, o seu marido escolheu não ser infiel. Mas o sinal de alarme existe e merece a rigorosa atenção de ambos. Embora compreenda que seja sua vontade reconstruir esta relação, devo chamar a sua atenção para a forma como devem conduzir este processo. A reaproximação física, incluindo a inovação em termos da intimidade sexual, é muito comum nas situações em que temos de lidar com a potencial perda da pessoa que amamos, mas não basta. É certo que é precisamente o facto de os membros do casal já não se tocarem, já não demonstrarem fisicamente os seus afectos, que tantas vezes contribui para o seu afastamento. Mas as feridas que conduzem a uma crise como esta precisam de ser tratadas e isso depende do diálogo, da capacidade para sermos assertivos com a pessoa que amamos, da aptidão para lhe dizer aquilo de que precisamos, mas também aquilo que nos insatisfaz ou aquilo que nos deixa mais inseguros. Em suma, sobreviver ao interesse por uma terceira pessoa implica correr riscos, mas são riscos necessários à implementação de mudanças sólidas. Sei por experiência clínica que nem todos os casais são capazes de o fazer sozinhos, pelo que sugiro que, se se sentir perdida, procure a ajuda da terapia familiar. Um profissional experiente ajudá-los-á a abordar o problema de forma precisa e orientá-los-á no sentido de implementarem as mudanças que desejarem.