No ano passado sofri 2 abortos espontâneos entre as 6 e as 8 semanas. Fiz exames e tudo parece estar bem. Tenho uma vontade imensa de voltar a ser mãe (já tenho um menino com 5 anos) mas o medo é enorme... Será que alguma vez vou conseguir ultrapassá-lo? É que também ninguém me tira da cabeça que eu tenho algo de errado pois para serem os dois no mesmo período gestacional... Enfim, será só sisma minha? Conseguirei ultarpassar isto e engravidar novamente como tanto queremos?
C.
Para algumas pessoas é difícil compreender o real impacto de um aborto espontâneo. Com certeza que (quase) todas as pessoas percebem que se trata de uma perda, mas na generalidade dos casos quem está de fora tende a desdramatizar a situação, talvez por se tratar de uma perda que ocorre geralmente numa fase inicial da gravidez. Qualquer médico ou psicólogo sabe, no entanto, que algumas mães levam muito tempo a recuperar desta perda. Mesmo quando já existe outro filho, como é o seu caso, é mais do que legítimo que se sinta ansiosa e com medo de não concretizar o desejo de ter outros filhos. Permita-me deixar-lhe algumas palavras de optimismo realista: o facto de já ter tido uma gravidez bem sucedida é o melhor sinal de que existem fortes probabilidades de voltar levar uma gravidez até ao fim. Bem sei que viveu esta perda duas vezes e aproximadamente na mesma altura, mas a verdade é que esta situação é muito mais frequente do que possa imaginar e ocorre, de um modo geral, ao longo das primeiras semanas. Nalguns casos, a mulher só descobre que estava grávida quando sofre um aborto espontâneo. Como existem muitos factores alheios à sua intervenção que podem estar na origem destas perdas, é compreensível que se sinta angustiada com aquilo que não pode controlar. Mas há factores que potenciam a probabilidade de voltar a levar uma gravidez até ao fim e que dizem respeito aos cuidados que pode e deve ter com a sua saúde física e emocional. Para além do sono e da alimentação, é importante que dedique uma parte da sua energia ao seu bem-estar emocional. Lembre-se de que as pessoas que praticam actividade física, e que investem em actividades que lhes proporcionem prazer são, genericamente, menos ansiosas. Quanto mais se dedicar a fazer o que gosta e a estar com as pessoas que a fazem rir, maior será a probabilidade de se descentrar dos pensamentos mais negativos e de voltar a fazer planos para o futuro. Não lhe proponho que esqueça aquilo por que passou. Pelo contrário, é importante que se sinta confortável para partilhar a sua tristeza e os seus medos com alguém da sua confiança. Mas é sobretudo do investimento que for capaz de fazer para tomar as rédeas da sua vida que depende a concretização do sonho de voltar a ser mãe.