Sou brasileiro e tenho 20 anos de idade. Tenho depressão há 5 anos, sou hipocondríaco e desde pequeno sofro de ansiedade, mas jamais pensei que fosse chegar ao extremo em que cheguei. Em 2007 tive algumas crises de pânico após ser internado com suspeita de meningite e ter ficado 4 dias tomando soro. Mesmo após ter sido comprovado que era apenas uma virose e que já estava tudo bem, senti-me perseguido pelo medo de repetir a experiência. Comecei a ficar inquieto e a correr o dia todo na esperança de livrar a mente de qualquer pensamento, tudo em vão, pois começava a chorar, gritar, bater nas paredes e não deixava que chegassem perto de mim. Fiz tratamento com uma ótima psicóloga e apresentei melhoras impressionantes, porém desde o começo deste ano tenho trabalhado constantemente e minha saúde tem estado muito fraca, tanto que descobri sofrer de Prolapso da Valva Mitral, o que acarretou novas crises de ansiedade. Mais recentemente tive uma intoxicação alimentar e fui obrigado a tomar medicamento em soro novamente, não preciso dizer que surtei no hospital e todos acharam que se tratava de alguma reação alérgica, não dando muita atenção ao meu desespero, porém simplesmente aplicando um anti-alérgico e me deixando sofrer. Consegui me acalmar no momento em que removeram a agulha, respirei fundo e melhorei. No dia seguinte já estava melhorando (ontem), mas sentia muita dor no braço, acredito que por ter ficado duas horas com uma agulha esteja me sentindo um pouco impressionado e com medo. O fato é que hoje acordei com o pescoço duro, um pouco dolorido e a primeira coisa que pensei foi "meningite", tenho pavor ao ouvir a palavra ou ao ver o médico mexendo em meu pescoço para ver se há algo errado. Surtei novamente, comecei a correr, chorar e consegui me acalmar após cerca de meia-hora, o pescoço relaxou e sobrou apenas o mal-estar, porém apenas uma hora depois meu pescoço ficou rígido novamente, para meu desgosto. Tenho medo de perder o controle sobre meu corpo, tenho muito, mas muito medo de sentir meus músculos se mexendo sozinhos e de não conseguir manter a calma. No momento não posso consultar minha psicóloga e preciso de ajuda para conseguir me acalmar e me sentir bem, antes que acabe fazendo alguma besteira. Espero que me ajude com palavras de conforto e talvez até mesmo algum exercício para manter a calma. Muito obrigado.
A.
A primeira coisa que gostaria que interiorizasse é que compreendo a sua angústia e que a sua descrição, ainda que transpareça o seu profundo desespero, é simultaneamente pedagógica, na medida em que ilustra bem aquilo que diariamente oiço da boca de tantos pacientes que me procuram exactamente pelos mesmos motivos. Saiba que existem milhões de pessoas em todo o mundo que passam por aquilo por que o leitor está a passar e que o "clique" para que recorram à ajuda especializada pode passar por acederem a mensagens como a sua. Sabermos que os nosso problema afecta outras pessoas não é em si mesmo uma solução, mas constitui um alívio importante porque normaliza uma situação que é profundamente angustiante e que pode toldar a nossa percepção, levando-nos a acreditar que somos "loucos" ou anormais. Claro que não é saudável viver sob estes níveis de ansiedade e, nesse sentido, importa reconhecer que há passos que podem e devem ser dados para que readquira a sua normalidade, o seu bem-estar, a tranquilidade que já conheceu e que merece.
Como afirmo tantas vezes, quer no que diz respeito à nossa saúde física, quer no que toca à nossa saúde emocional, cada pessoa deve ser capaz de reconhecer que é o seu próprio principal cuidador. Nesse sentido, e ainda que me solidarize com o seu sofrimento e com a angústia que terá sentido aquando do confronto com algumas medidas clínicas que desvalorizaram a componente emocional da sua reacção, compete-me chamar a sua atenção para a necessidade de o leitor assumir a responsabilidade de partilhar, em contexto clínico, o seu histórico de ansiedade. Se um médico que o acompanhe numa urgência hospitalar tiver imediatamente acesso às dificuldades emocionais por que tem passado, ser-lhe-á mais fácil fazer uma avaliação rigorosa da situação. Por exemplo, é óbvio para mim que a sua reacção à tentativa de o colocarem a soro não foi mais do que um episódio de pânico, em que o episódio traumático do passado tomou conta de si, bloqueando-o. Ora, os técnicos que intervieram nessa situação não teriam como saber destes dados, a menos que o leitor os desse a conhecer.
Eu também sei que nem sempre é fácil assumir estas fragilidades, para mais quando a cabeça está repleta de ruminações à volta de doenças graves. Mas quanto maior for o seu auto-conhecimento e o seu à vontade para se revelar, maior a probabilidade de se ver livre de situações arriscadas que rapidamente o transportam para ciclos viciosos perigosos.
Desconheço os motivos que o impedem neste momento de voltar a consultar a sua psicóloga, mas recomendo vivamente que não deixe de ser acompanhado por um clínico experiente e em quem confie. Mais do que ninguém, o leitor já conhece os benefícios da ajuda especializada, pelo que importa que faça uso dessa experiência dando a si mesmo a oportunidade de voltar a sentir-se estável. Independentemente desta ajuda, creio que pode e deve seguir algumas dicas que o ajudarão a sentir maior controlo sobre a situação:
- Não se isole. Nos picos de ansiedade agarre no telefone e fale com alguém da sua confiança. Na impossibilidade de contactar com um amigo ou familiar, procure conversar com alguém que esteja fisicamente mais acessível. Até uma conversa trivial sobre o tempo pode ajudá-lo a interromper os ciclos de ruminações.
- Faça desporto, mas opte por actividades em grupo. A corrida pode abrir espaço para os pensamentos automáticos negativos na medida em que não requer a sua concentração.
- Treine o seu cérebro no sentido de interromper os pensamentos negativos - oiça música, cante as suas músicas preferidas, anote a letra das canções. O simples facto de se concentrar no poema implicará que o seu cérebro se distraia do que o angustia.
- Procure identificar aquilo que o entristece e escreva sobre isso. É possível que a fuga à tristeza esteja a agudizar o transtorno ansioso. Organizar os pensamentos é o primeiro passo para organizar as emoções.